segunda-feira, abril 12, 2010 |
Um bando de vigaristas trapaceiros |
«A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendemos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. "Meu Deus", dirá você, "se eu fizer isso minha vida estará arruinada. Como vou progredir na vida?". Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais. Ah, erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, De fato, já é coisa terrível estar sozinho com o Novo Testamento.»
Soren Kierkegaard
Via do.akamine e Bacia das Almas.
Jorge Oliveira |
posted by @ 3:59 da tarde |
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12 Comments: |
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Eu proporia ainda mais: tirar a própria Bíblia da frente de Deus, apostar na oração e na relação directa com Ele que Jesus nos proporcionou. Porque não nos enganemos, a coisa é adaptável para
“A Bíblia é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se do individuo; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a vivência pessoal chegue perto demais.”
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Pois João, mas é precisamente essa fuga do texto sagrado que Kierkegaard denuncia.
Como sabes a Bíblia não é uma invenção humana. Transcende a humanidade e ao contrário do que é propalado em muitas seitas, não precisa de grandes eruditos, teólogos, pastores ou padres para a entender e interpretar. O que é fundamental é lermos a Bíblia com o auxílio do Espírito Santo e esse infelizmente nem todos O têm.
A Oração e a relação directa com Deus sem Bíblia pode desviar-se rapidamente para uma misticidade superficial. Jesus leu, citou e viveu as Escrituras, não nos esqueçamos disso. O Logos de Deus.
Um abraço.
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Jorge,
conheço o argumento, mas, como sabes, discordo. Acho que estás errado. Usas o mesmo argumento do medo do desvio (de quê, afinal?) como todos os que querem impôr a sua verdade têm feito, no meu ponto de vista. O texto não é sagrado, Jorge. Jesus é sagrado. Deus é sagrado. O Espírito Santo é sagrado. A Bíblia não é sagrada. Pode conter a verdade, mas não é a Verdade. A essa só podemos aceder através da revelação do Espirito Santo, e tanto pode ser através da Biblia como de um acidente de carrossel num parque infantil ou da conversa de um lunático. É dificil ficarmos realmente a sós com Deus, eu sei. Mas acho que é isso que ele deseja. O resto é folclore (na verdadeira acepção da palavra)
Um abraço
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E se estiver errado, peço-Lhe que mo mostre.
Nota: eu acho o folclore muito importante : )
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João,
Poderia usar aqui de alguns argumentos que considero válidos para demonstrar que a Bíblia, mais do que conter apenas a Palavra de Deus, é a própria Palavra de Deus, mas talvez não seja muito proveitoso (além disso penso que já tivemos esta conversa).
Relembro apenas 2 versículos onde se lê claramente que a Palavra de Deus é a verdade:
Salmo 119:160 - A tua palavra é a verdade desde o princípio
João 17:17 - Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
Já agora também Lucas 24, onde Jesus censura a cegueira e ignorância dos seus discípulos acerca dele ser O Cristo, precisamente por causa da desconhecimento das Escrituras (Lucas 24:25-27; 44-45).
(E gosto mais de um bom presunto transmontano e de umas boas alheiras de Mirandela do que folclore)
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João- o problema é que, se fores por aí e considerares que a tradição bíblica, por ser folclore, não pode ter nada de sagrado, ficas com a aporia de acreditares que o sagrado tem de ser analfabeto.
Com a agravante de depois, ilustrares esse sagrado- por manifestações do Espírito Santo, que são coisas que conheces por teres lido um livro profano.
ehehe
Eu acredito no inverso- que tudo aquilo que tende para se universalizar "civilizacionalmente" e que nem foi mera cópia de sociedades, terá uma verdade que está para além da fábula ou do conto inventado.
Eu não consigo é acreditar num sagrado que não pudesse saber ler nem escrever.
ehehee
Mas percebo o queres dizer. A questão é que essa noção não se traduz facilmente. As aproximações e visões humanas não são Deus a escrever. Mas o sagrado também não é Deus a passear-se na terra.
Ou é, mas de outra forma que os textos não traduzem no seu todo, e ainda menos em se misturando milénios em relatos que nem são coesos.
O que eu não acredito, ou acho disparatado, é Deus resumir-se a uma religião compilada em textos e com data marcada no local x para o povo eleito, apenas.
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Não concordo com a ideia de que a Biblia são textos simples e evidentes em geral. Por isso se dá importancia há hermeneutica do texto bíblico.
Mas João, é o próprio Jesus que te desmente ao considerar o Testamento bíblico como um Seu intróito: "Não penseis que vim para revogar a Lei ou os profetas, não vim para revogar, vim para cumprir" disse Ele na Montanha. Evidencia o caracter sagrado das Escrituras no sentido de ser algo a respeitar e proteger. No sentido sagrado. Não significa isto nehuma confusão entre Deus e o Livro, penso eu.
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"Como sabes a Bíblia não é uma invenção humana"
tem piada, os muçulmanos dizem precisamente isto do Corão. a sacralidade do texto, oalavra "directa de deus soprada aos aouvidos do(s) profeta(s). As palavras do livro sagrado não são mediadas ou construídas em contextos históricos, não necessitando por isso de interpretação. Devem ser vividas literalmente .
Ora esta bibliolatria deixa-me perplexidades.
Devemos lapidar mulheres adúlteras como os seguidores do Corão? E, se não o fizermos, não estamos a alterar dos ditames da Bíblia por uma tradução humana baseada nnas mudanças sociais ( e civilizacionais)
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Jorge,
No dia em que fizer sentido que o salmista já estava a englobar no seu termo ‘palavra’ o que seria escrito mais de duzentos anos depois por alguém que ele não poderia conhecer, aí passo a concordar contigo. Achas mesmo que a Bíblia toda é divinamente inspirada? Porquê? E se for para me dares as justificações habituais auto-justificativas dentro da Bíblia, escusas de responder. Jesus nunca falou da Bíblia. Falou de profetas e escrituras. De resto, foi o primeiro a por a sua relação directa com Deus à frente das Escrituras. Não apedrejou, mandou os discípulos saírem ao sábado e apresentou-se como filho de Deus.
Zazie,
A tradição bíblica terá algo de sagrado, claro. Penso que disse isso. Tem o Sagrado mas não é o Sagrado.
Cbs,
Respeitar e adorar são coisas diferentes. Limitar as hipóteses de Deus se manifestar por esses atributos estarem no Bom Livro ou não, é adorar mais o texto do que Deus. Aliás, foi essa a causa de Jesus ter sido crucificado. O próprio Paulo, antes do seu encontro choque na estrada para Damasco andava, ao que parece, a supervisionar apedrejamentos de cristãos. E tudo porquê? Porque o Livro é que era.
Amigos,
Eu gosto da Bíblia e é o Meu livro de eleição. É riquíssima e nela encontro muitas vezes respostas para as dúvidas de acção ou julgamentos com que me vejo confrontado. E, lamento, não sou um dualista. Não há bons nem maus. Não há preto, só branco e cinzento.
NOta: E o Nuno? Com umas provocações destas não sai da toca? : )
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O conceito de "Sagrado" está em todos os grupos humanos – vê “O Sagrado e o Profano” do Mircea Eliade – e consiste sempre numa oposiçao entre duas dimensões da realidade: o que está fora (profano) e o que está dentro (sagrado); Pro-diante de; Fanum – templo O que está relacionado com Deus é sagrado. Nesse sentido é algo a respeitar, a manter protegido e separado. È de Deus. Nesse sentido o ritual pode ser sagrado. Coisa diferente é adorar significando amor extremo e aí, só Deus… e o Próximo, como sabemos. Quero dizer que nem só o que é adoravel (Deus e o Outro) está é Sagrado, há coisas que também podem ser sagradas. Se restringes o Sagrado à adoração da Divina, excluis o resto que Dele vem, a Sua palabra, por exemplo… a Vida como criação divina, por exemplo.
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Mas, o cbs, por acaso até acrescentou o detalhe importante- a palavra.
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Eu proporia ainda mais: tirar a própria Bíblia da frente de Deus, apostar na oração e na relação directa com Ele que Jesus nos proporcionou.
Porque não nos enganemos, a coisa é adaptável para
“A Bíblia é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se do individuo; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a vivência pessoal chegue perto demais.”