segunda-feira, março 17, 2008 |
Fazei o mar deflagrar nos rios, e não esboroar as suas margens |
- Você é muito ecuménico, disse-lhe a pastora com o seu eclodido sorriso que tanto o contaminava, acompanhando-o com o seu também habitual gesto de braços que lhe fazia estalar a capa e dava a impressão que abraçando o ar, como que abarcava o mundo inteiro num anelo de amor e comunhão.
Depois riu-se e bateu-lhe carinhosamente na coxa, sentados que estavam lado a lado na assembleia vazia, enquanto ele sorria não apenas perante ela, mas perante aquela palavra cujo significado desconhecia, e que lhe despoletara imagens de campos e cavaleiros em contenda por fluxos contidos de ecus e poder, patacas e colonizações.
- Que coisa é essa? perguntou ele com um sorriso quase riso, Algum conceito protestante que desconheço?
Ela quedou-se olhando-o num pequeno estarrecimento, talvez pelas largas conversas teológicas e bíblicas já ocorridas, ou por ele ser um católico que já há quase dois meses era presença certa nas suas celebrações dominicais e outros convívios, partilhas e serviços.
- Mas você vem donde? exclamou, De marte? brincadeira que rimava de facto com a presença dele, aparecido sem mais naquele subúrbio laranjeiro, num quarto alugado como que sem motivo e por acaso. Ainda nunca calhara terem conversas mais biográficas, o que naquele momento também não lhe pareceu oportuno, e com novo abraço aéreo e global continuou Mais ou menos, e riu, Historicamente foi iniciado por protestantes. Ecumenismo é a relação entre as igrejas cristãs, com vista a uma possível unidade.
Ele estremeceu. Ah, havia isso? Interessante, comentou, vou-me informar, e conseguiu facilmente, dada a delicadeza dela, desviar a conversa para outros assuntos e decisões. Porque sabia, isso já percebera, que a unidade era uma categoria extremamente perigosa nas suas efectivações, orientação de comunhões abertas assim como de massificações alienantes, de diálogos na mutualidade assim como de manipulações despóticas, tal como o abraço de Jessica, a pastora, era de amor e alegria, mas o mesmo gesto noutro modo era a acção mais costumeira de estrangular o outro até à morte de ambos.
Como tantas vezes, a associação livre que lhe ocorrera, com os cavaleiros e suas espadas de sangue e domínio, rimava com os conteúdos analíticos da reflexão.
E naquela mesma noite, orou por unidades amorosas que fecundassem o mundo de supresas e destemores, pétalas de anjos que caíssem no rosto da humanidade raivosa.
Não sabemos a que horas adormeceu, nem o que leu ou não leu antes, mas uma coisa era certa: ele iria informar-se.
Vítor Mácula |
posted by @ 11:34 da manhã |
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3 Comments: |
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o gajo andava era a ver se saltava pá cuequinha da pastora, ehehe
bem vindo ao Trento sô Vitor
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Muchas gracias!
PS: Huuuum, cuequinha... um amigo meu dizia-me há uns anos que porventura o melhor motivo que puderia ter para fazer seja o que fosse, ainda era o "agradar a uma mulher", e inversamente; e os árabes, que chamam à cuequinha "fazer rir" ;)
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o gajo andava era a ver se saltava pá cuequinha da pastora, ehehe
bem vindo ao Trento sô Vitor