quarta-feira, dezembro 05, 2007 |
em direcção a uma Antropologia Teológica: God´s Image |
Não há teologia bíblica sem antropologia. Deus não tem uma história celeste fora da história do homem. Da árvore do bem e do mal até à segunda vinda, Deus existe ligado ao homem. Jesus assume-se sempre nos sinópticos como O Filho do Homem: que significa um homem, um homem como eu, ou apenas eu. Este título pode significar a fragilidade humana mas também a força e propósito da humanidade criada por Deus. Em Daniel onde o título se encontra pela primeira vez, a figura do Filho do Homem contrasta com uma série de impérios dominadores, desumanos e cruéis que se sucedem na história da humanidade. O Filho do Homem - a quem se entrega um reino eterno, divino e com características de justiça, onde o ser humano não pode ser explorado, desumanizado - é claramente um homem e não um Deus ou semi-Deus.
Jesus apresenta-se como o Filho do Homem, não um Deus ou semi-Deus. A mensagem de Jesus que se desvincula de qualquer poder secular é no entanto na sua essência profundamente política. Na verdade a mensagem jesuânica faz eco da mensagem profética do AT: “Misericórdia quero e não sacrifícios!” Ser filho do homem tornava Deus muito próximo do homem comum, com as suas necessidades e direitos de justiça e dignidade. Por isso - no cenário pascal de Jerusalém, e muito antes das dogmáticas cristãs - Jesus teve que morrer, não porque era filho de Deus, mas porque era o Filho do Homem.
Sim, Paulo –bastião último de qualquer evangélico que se preze - começa de Deus para o homem, como qualquer um de nós tem que fazer, mas Deus começa pelo homem: arranca-o do pó, sacode os grãos de chão, sopra-lhe o vento divino, fá-lo à sua imagem e semelhança. Chama-lhe amigo, guia-o, liberta-o, sofre por ele, promete-lhe justiça e paz. Jesus, o Filho do Homem, olha-o com fraternidade, eleva-o acima das prisões que o próprio homem constrói, e mais uma vez – como aliás sempre: ouve, olha, sente a condição humana e oferece-lhe adopção, glória, vida eterna…
Temos naturezas diferentes: Os homens “matam” Deus, Deus dá-lhes vida. Mas como conheceremos a Deus senão pelos 5 sentidos humanos? a Beguina pintura: Leszek Forczek |
posted by @ 7:34 da tarde |
|
3 Comments: |
-
Admiro a tua escrita, cara amiga.
Mas discordo em alguns ponto, e desejava que os considerasses:
1- Só porque a Palavra de Deus dada a nós relata segundo a história humana, e isto se não atentarmos aos capítulos iniciais do Livro de Génesis, tal não implica que não haja Deus além da percepção humana ou do relato que nos é dado, o que transforma a tua antropologia teológica num mero antropocentrismo. Repara que a própria declaração 'Deus não tem uma história celeste fora da história do homem' não é substante em si e roga por evidência, pois como nos diz a lógica mais elementar, não se podem efectuar afirmações universais na negativa. Ou seja, se eu disser que não existem gelados cor-de-rosa com sabor a maracujá nada provo, a menos que sonde todo o universo para constatar que não os há. Da mesma forma, a autoridade bíblica diz-nos que todo o espaço, os astros, a terra, a flora e a fauna, foram criados antes do homem, o que demonstra que o nosso Pai havia-nos em mente antes de nos moldar, e que nos amou a esse ponto, mas também que existiu uma historicidade divina antes da humana, não só no Céu, esse lugar que nem lugar é, mas também na terra.
2- Filho de homem somo-lo todos, e no caso do Cristo, esse indício de fragilidade que tão poeticamente sugeres é real, mas é importante ressalvar que Jesus é homem, mas um que é perfeito, e esse o homem é esse que seríamos se Adão nunca mordesse a polpa do pecado. Na cruz morreu não só um filho de homem (Maria), mas o filho único de Deus (João 3:16), sendo que a humanidade perfeita do Messias não conflitua com a sua divindade, pois Ele no Seu sacrifício cumpriu a vontade do Pai, como se Ele mesmo a cumpriria, mas é simultânea. Pois foi o facto do Filho de Deus perecer no Calvário que possibilitou o milagre da Salvação a todos não, o que doutra forma seria a morte aberrante dum fanático judeu inimigo da ortodoxia de Moisés, que nenhuma redenção universal lograria, mas apenas um tablóide palestino.
3- Nós conhecemos Deus por meio da fé (Efésios 2:8-9), o que não se baseia nos nossos sentidos limitados:
'A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem' (Hebreus 11:1).
Isto pela mesma razão por que a realidade universal não é refém da percepção humana, como a alegoria da caverna de Platão nos demonstra.
-----------------------------------
Admiro, porém a tua sensibilidade ao compreenderes a misericórdia de Deus pela condição humana, pois, na verdade, o que nos salva é o facto de Deus não só ser a personificação da Justiça, mas também do Amor, e ser capaz de salvar-nos, imperfeitos e pecadores, por e de graça.
Deus te abençoe.
-
Nem sempre sucede, mas curiosamente acompanho no essencial todos os reparos do Nuno,carissima Beguina... :) incluso a frase "admiro, porém a tua sensibilidade" pois o teu texto é bonito
-
|
|
<< Home |
|
|
|
|
Um blogue de protestantes e católicos. |
|
Já escrito |
|
Arquivos |
|
Links |
|
|
Admiro a tua escrita, cara amiga.
Mas discordo em alguns ponto, e desejava que os considerasses:
1- Só porque a Palavra de Deus dada a nós relata segundo a história humana, e isto se não atentarmos aos capítulos iniciais do Livro de Génesis, tal não implica que não haja Deus além da percepção humana ou do relato que nos é dado, o que transforma a tua antropologia teológica num mero antropocentrismo. Repara que a própria declaração 'Deus não tem uma história celeste fora da história do homem' não é substante em si e roga por evidência, pois como nos diz a lógica mais elementar, não se podem efectuar afirmações universais na negativa. Ou seja, se eu disser que não existem gelados cor-de-rosa com sabor a maracujá nada provo, a menos que sonde todo o universo para constatar que não os há. Da mesma forma, a autoridade bíblica diz-nos que todo o espaço, os astros, a terra, a flora e a fauna, foram criados antes do homem, o que demonstra que o nosso Pai havia-nos em mente antes de nos moldar, e que nos amou a esse ponto, mas também que existiu uma historicidade divina antes da humana, não só no Céu, esse lugar que nem lugar é, mas também na terra.
2- Filho de homem somo-lo todos, e no caso do Cristo, esse indício de fragilidade que tão poeticamente sugeres é real, mas é importante ressalvar que Jesus é homem, mas um que é perfeito, e esse o homem é esse que seríamos se Adão nunca mordesse a polpa do pecado. Na cruz morreu não só um filho de homem (Maria), mas o filho único de Deus (João 3:16), sendo que a humanidade perfeita do Messias não conflitua com a sua divindade, pois Ele no Seu sacrifício cumpriu a vontade do Pai, como se Ele mesmo a cumpriria, mas é simultânea. Pois foi o facto do Filho de Deus perecer no Calvário que possibilitou o milagre da Salvação a todos não, o que doutra forma seria a morte aberrante dum fanático judeu inimigo da ortodoxia de Moisés, que nenhuma redenção universal lograria, mas apenas um tablóide palestino.
3- Nós conhecemos Deus por meio da fé (Efésios 2:8-9), o que não se baseia nos nossos sentidos limitados:
'A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem' (Hebreus 11:1).
Isto pela mesma razão por que a realidade universal não é refém da percepção humana, como a alegoria da caverna de Platão nos demonstra.
-----------------------------------
Admiro, porém a tua sensibilidade ao compreenderes a misericórdia de Deus pela condição humana, pois, na verdade, o que nos salva é o facto de Deus não só ser a personificação da Justiça, mas também do Amor, e ser capaz de salvar-nos, imperfeitos e pecadores, por e de graça.
Deus te abençoe.