Henri Bergson a par de uma moral fechada, imutável e conservadora, vê uma outra moral aberta centrada na doação livre e não na obrigação. Esta ultima tem origem numa emoção original, o êxtase místico, um contacto com o Criador que transforma e faz responder a um apelo. As duas morais correspondem a tipos distintos de religião: a primeira origina uma religião estática, com o peso do mito e da magia; a segunda resulta numa religião dinâmica, supra-intelectual, que o filósofo define como Mística. É oposta à religião estática na origem, no modo de acção e no fim; parte do sobrenatural e propaga-se por uma atracção amorosa; separa o homem da Natureza prometendo-lhe uma condição diferente da espécie biológica. O Bergsonismo é uma filosofia da percepção e assim, se Deus existe, deve ser experimentado, e não objecto de uma demonstração intelectual. Deus é um dado imediato da alma que experimentou uma ascese: o místico tem a intuição de Deus. O misticismo antigo, tanto o platónico como o oriental, era de contemplação: não acreditava ainda na eficácia da acção humana. Mas a mística completa dos grandes santos cristãos é acção; para eles não é um ponto de chegada, mas o ponto de partida para a acção eficaz no mundo. Porque crêem tê-Lo percepcionado, os grandes místicos não guardarão para si, tentarão dar testemunho da descoberta aos outros. Apelam para algo que existe latente em nós, querem passar o facho para que cada alma, por sua vez, se ilumine também; e mesmo quando não chegam aos outros, a sua força criadora tende a subtraí-los ao formalismo da religião estática, produzindo formas intermédias de religião. O amor do santo pela humanidade é o próprio Amor de Deus: é um amor que não problematiza nem congela em mistérios, mas jubilosamente continua a obra de criação divina; armado com uma sensatez actuante e saturada de bondade, o santo é um apaixonado, e nunca um fanático. Pode ser difícil verificar o que afirmam esses homens, mas podemos também notar a concordância dos seus testemunhos que, não transportando uma certeza definitiva, trazem contudo uma probabilidade – diferente, mas não tão longe assim, da “certeza” científica – que permite pelo menos justificar a esperança. O acordo entre os místicos, não só os santos cristãos, como os de outras religiões, é “o sinal de uma identidade de intuições, que se pode explicar do modo mais simples, pela existência real do Ser com o qual crêem estar em comunicação” (Deux Sources, p. 265). A alma mística é o eixo da vida religiosa e a experiência mística fornece a única prova possível da existência de Deus: “Deus é Amor e é objecto de amor: aqui reside toda a Mística” (Deux Sources, pag. 270) cbs |
obrigado pelos dois posts.
muito útil.