domingo, abril 29, 2007
Apologia à Tolerância.
Não sou ecuménico, mas tolerante.
Porquê? Tê-lo-ei respondido no final deste post.

Das muitas irregularidades que se testemunham recentemente, pareceu mais grave ao autor deste blogue a minha tirada em comentário dum outro do CC, em que afirmo que o 'paganismo sincrético' dos católicos não é uma ofensa ao ser denunciado, mas um facto. Não me farei naïve, fi-lo pelo efeito humorístico da brusquez e dogmaticidade da resposta, mas parece que o humor é aqui levado a sério, juntamente com os dildós e chicotes da namorada.
Num tom mais grave, fi-lo por crer que a absorção de rituais e tradições do mundo pagão
é reconhecido pela Igreja Católica, que não se defende disso por não ver nisso heresia. Por exemplo, todos sabem que nascimento de Jesus Cristo não data 25 de Dezembro e que não é por coincidência que tal incide sobre a saturnália e o aniversário do Deus do Sol Invicto. Mas, segundo sei de [Sto] Agostinho de Hiponas, o crente, após se esquecer dos seus deuses antigos, já não trai ao Deus monoteísta de Israel ao honrar os santos católicos que a esses tomam os atributos da cura, da sorte, etc.

Por isso há sincresia? Sim, porque há uma fusão (sin-) de credos (-cresia). Há paganismo. Ora, o Deus Pai de Jesus Cristo diz: 'Não terás outros deuses diantes de mim. Não farás para ti escultura nem alguma semelhança do que há em cima dos céus, nem em baixo da terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás' (Ex20:3/4/5). Dito isto, há, logicamente, uma descontinuidade com o Cristianismo por quem se encurve e sirva os ídolos, uma cisão da exclusividade que Javé pede. E a devoção promíscua era algo que não criava asco aos pagãos.
Mas enfim, quem não ache nos seus ícones e virgens algum paganismo sincrético, vou deixá-lo em paz com a sua consciência. E com a possibilidade de provar que estou errado.

Mas Nuno, é um facto? Ora quanto a mim, é. A minha percepção, a mesma que diz que há um céu azul e um sol cor de luz, mo diz. Mas também sei que a percepção não é realidade. E que, ao daltónico, são vermelhos os céus e é cor de laranja a estrela da Via Láctea. E quem lhe muda a percepção desse facto que os seus sentidos percebem? Ninguém. Ele só toma a nossa palavra, lealmente e em obediência.
Assim, também eu tomei a Deus a Palavra. E é ele que nos atribui uma percepção e que conhece a realidade e o que é, de facto, factual.
Enquanto não chega o Dia do Senhor e o Livro da Vida nos é aberto, dependeremos da percepção.

E é isso que o Trento na Língua é. Um confronto percepcional entre uma percepção chamada protestantismo ou cristandade evangélica e o catolicismo romano.
Compreendam, portanto, que não me acho dono da Verdade, mas testemunha dela (Mt24:14), como quem quer que leia a Palavra de Deus o é. Contudo, o testemunho é humano, daí faltoso. A própria Bíblia que conservam convosco é uma tradução. E notemos que a Palavra, em si, é uma tradução do divino dado humanamente por Jesus (Jo1:1; 18), e/ou, divinamente, por inspiração do Espírito Santo.

Por isso, vou dar o direito dos que estão errados a estarem-no, porque a mim, espero, também mo dão, caso esteja. E isso é tolerância: suportar, aturar, como uma constipação febril ou a pessoa que ressona pela narina e senta ao lado do nosso lugar no avião. Acreditem que isto sim, bastava para findar a guerra israelo-árabe, e todas as jihads e cruzadas que se porfiaram:

'Suportai-vos uns aos outros' (Ef4:2).

Em todo o caso, e se uma das nossas percepções se assemelhe mais à realidade do Senhor, lembremo-nos que um Deus que 'é Amor' (1Jo4:8), não nos censuraria a estupidez humana como que não repreende cão por babar-se. Antes, preza os frutos do espírito e as nossas acções, feitas em Sua obediência, para Sua glorificação. E isso, não pode ser atestado neste blogue.

Por isso, suportarei as vossas heresias aos meus olhos, como vocês as minhas heresias as vossos, porque o que aqui se faz neste blogue é mostrar interesse em se achegar a Deus, o que é por ele muito louvado (Ti4:8). Sobretudo, tenhamos em conta esta escritura:

'Até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós' (1Co11:19).

Aqui, escutam-se pareceres, apenas.
O quanto de certo eu escreva aqui aos olhos de Deus jamais valerá mais que as boas-acções que alguém como o Samuel faça. E surpreender-me-á que o veja no Céu, perguntam? Estarei demasiado surpreso em verificar que eu mesmo ali estou para me pasmar dele.
Pois não o mereço, nem nenhum homem.
Vem-nos por e de Graça, o Reino.

Porque uma coisa é a fé individual, outra a denominação. Porque é Cristo que escolherá a sua Igreja entre os homens, não os homens que hão-de lhe dar uma igreja escolhida feita por mãos humanas escolhidas por dedos humanos.
E dito isso, sim, creio que católicos sinceros são de Deus e muitos são meus amigos e neles observo frutos que testificam de Deus. Mas isso não significa aceitar o catolicismo, enquanto conceito institucional.
Mas tolero. E tolero de bom gosto e em boa-fé. Ao papa, às febres, aos bruxismos.

Pois todo este blogue é um hino à tolerância.
Cantemos, então.

Shalom Adonai.
Selá.

Nuno Fonseca

(PS: para breve, explicarei o porquê de gloriar a tolerância, em detrimento do ecumenismo)
posted by @ 3:40 da tarde  
2 Comments:
  • At 29 de abril de 2007 às 17:03, Blogger timshel said…

    Nuno

    só agora me lembrei que fizeste um comentário a um meu post anterior (na altura não tive tempo para responder e depois esqueci-me)

    disseste:

    "Qualquer intenção de aproximar Deus de César serve, concerteza, interesses desonestos ou hipócritas. Num palavra: 'fariseu'."

    não estou de acordo com essa afirmação por diversas razões

    por agora gostaria apenas de expor uma, aquela que me parece a principal

    suponho que estivesses a pensar num exemplo em que alguém dissesse que algo do reino de César agrada Deus quando na verdade agrada-lhe é a ela

    mas estarás de acordo comigo que o reino de César é o reino das regras que as pessoas que vivem em comunidade estabelecem entre si

    Deus não tem nada a ver com estas regras? Apenas exige a "tolerância"?

    PS.: Embora o blogue não seja meu, aproveito para, pessoalmente, te desejar boas-vindas.

     
  • At 29 de abril de 2007 às 17:12, Blogger Nuno Fonseca said…

    Obrigado, Timshel.

    Concordo sim, que enquanto cidadãos do Reino vivemos sobre as suas leis aqui mesmo na terra.
    Mas César nada tem que ver com isso. Ou seja, entre nós estilos de vida como a homossexualidade são desprezíveis e inaceitáveis. Mas concordo com o 'cristão' George Bush em persegui-los constitucionalmente e ao forçar as leis do Pentateuco sobre os gentios de Israel e os do Israel de Deus? Não redondo. Se César calha ser cristão, o que é antitético, não deve impor os conselhos que Deus nos dá enquanto Pai amoroso a quem não o tenha por parente sequer. É contraprodutivo e afasta as pessoas do Senhor.

    Primeiro vem o Amor e depois a Lei e a Lei só pelo Amor é cumprida.

    A tolerância, chega. Como até diz esse versículo. Mas mais importante que o sucesso desta é a invalidade lógica do ecumenismo, como explicarei de futuro.

    Agape, irmão.

     
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