quarta-feira, janeiro 03, 2007 |
Ainda a morte |
Deixem-me citar Slavoj Zizek, enquanto pensador insuspeito ao reflectir brevemente sobre a pena de morte, esquerdista e por isso muito longe dos "pró-bushistas" e dos "ideólogos da guerra sem olhar a meios e mentiras". Assim abrevia-se a tarefa longa de enumerar todos os filósofos cristãos centrais que ao longo de dois milénios conciliaram cristianismo e punição capital (e por que não referir a escandalosa omissão do próprio Jesus quanto ao tema? Sem essa mesma pena de morte o próprio Jesus nunca poderia anelar pelo sobrenome Cristo). Fala Zizek em "A Marioneta e o Anão - O Cristianismo entre Preversão e Subversão" (livro que ando a consumir desefreadamente) sobre o "espectáculo anémico de uma vida que já não passa de uma sombra de si mesma. É nesta perspectiva que devemos compreender a rejeição crescente pela pena de morte e sermos capazes de discernir a "biopolítica" subjacente que sustém essa rejeição. Os que defendem o "carácter sagrado da vida", que consideram ameaçado por poderes transcendentes que a parasitam, acabam num «mundo supervisionado onde viveremos certamente com toda a segurança, sem dor, mas esse será supremamente um mundo entediante», um mundo onde, por amor ao seu próprio desígnio - uma longa vida hedonista -todos os prazeres reais serão proibidos ou severamente controlados (cigarros, estupefacientes, comida...)".
Tiago Cavaco |
posted by @ 11:04 da tarde |
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18 Comments: |
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Sempre a aprender: «uma longa vida hedonista -todos os prazeres reais serão proibidos ou severamente controlados (cigarros, estupefacientes, comida...)» - e compara-se isto à pena de morte. Tiago, esses ditos autores de esquerda são maus, já se lê! Devem ser daquela esquerda que é tão apreciada à direita, que de tanto serem esquerdistas acabaram como o Pacheco ou o Fernandes a serem mais papistas que o papa. Mas com este argumentário também podia postar isto: «Os que defendem o "carácter sagrado da vida", que consideram ameaçado por poderes transcendentes que a parasitam, acabam num «mundo supervisionado onde viveremos certamente com toda a segurança, sem dor, mas esse será supremamente um mundo entediante», um mundo onde, por amor ao seu próprio desígnio - uma longa vida hedonista -todos os prazeres reais serão proibidos ou severamente controlados (cigarros, estupefacientes, comida...)".» O título do post? "Ainda o aborto".
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O cristianismo e punição capital são INCOMPATÍVEIS. Também não refiro a «escandalosa omissão do próprio Jesus quanto ao tema» do aborto, como argumento de debate.
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Esta agora não percebi. O Tiago é pelo aborto??!
Só pode. Também é para se evitar chatices e por segurança que se defende a liberalização do aborto.
Quem é contra é que invoca a sacralidade da Vida.
Não sabia que já havia evangélicos abortistas. Está-se sempre a aprender.
Mas, de certo modo, até é mais consequente. Se desaparecem os símbolos e os exemplos e se dá mais valor aos casos individuais, é natural que assim aconteça.
Passam a existir vidas, cada uma com valor liberalmente atribuído por quem quiser.
E também desaparece o direito dos Estados invocarem a supremacia dos seus valores sobre a barbárie, para os invadirem e libertarem o povo das ditaduras.
Chato, chato vai passar a ser a vida sensaborona de tanto militante do Eixo do Bem no desemprego.
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zazie
há uns meses, já não me lembro exactamente sobre quê, a similtude dos nossos pontos de vista era tal que te "nomeei" minha porta-voz :)
passa-se agora a mesma coisa; mesmo a tua defesa da abstenção na resposta ao referendo do aborto está muito próxima da moinha defesa do Não - tu não compreendes como é possível seguir uma determinada linha de raciocínio e depois não se abster e eu penso exactamente o oposto: depois dessa linha de racicínio é o Não a única resposta possível
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miguel marujo
"O cristianismo e punição capital são INCOMPATÍVEIS." Olhe que não... Há milhões de cristãos que conseguem compatibilizar as duas coisas.
zazie
Os evangélicos podem, ou não, dar pouco valor a "símbolos e exemplos" mas têm uma regra bem dfinida: a Bíblia. E aí o aborto é condenado de forma clara. O que já não se passa com a pena capital.
Pedro Leal
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E o que fazer do «não matarás»? Põe-se na gaveta? Ou aqui já se pode "interpretar"?
CC
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Tim,
Devo ficar toda orgolhosa? ehehe
beijoca
Pedro Leal:
O problema, neste caso, é que ela aparece por causa da peninha pelo Capital...
":o.
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depois do último comentário do Pedro Leal pergunto-me a mim próprio se a defesa da pena de morte é apenas um devaneio dos meus colegas protestantes deste blogue ou se fará parte de algum dogma protestante - que faz do mandamento "Não matarás" tábua rasa - que desconheço.
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o que eu estou a curtir neste "debatinho" católico-evangélico-bushista é que como é que ainda há gente que se espanta muito quando aqueles c******s dos muçulmanos transformam a religião em ideologia...
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Que raio de religião é que não se transforma me ideologia?
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Todas. É só um pequenino passo e já está lá.
Noutros casos é a ideologia que se transforma em religião. Estas coisas é assim. Imagino que tudo o que tende a subir fique de tal modo a monte na cabeça que os comandos podem trocar-se.
Costuma acontecer com as telefonias e televisões, por isso...
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mas grave a sério é que já aaconteceu ao maradona: telefonar para o comando da tv a ver se dava com ele
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ups! não li o não. Pois é, caro Tiago, todas mas há quem tenha mais pezinho para a dança. Como em tudo .Quanto mais perto do mundo mais facilmente dá cruzada por ele.
E isto de ler muitos livros ao mesmo tempo e ainda manter bloogues e combates em várias frentes também não ajuda
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mas ó Tim: nesta história do aborto ainda havemos de ter uma conversa.
Eu andei baralhada quanto à decisão. E só via o tal caminhar para a utopia o Novo Mundo da anestesia da culpa. Mas olha que, depois de ir ao blogue do não e tomar o pulso às novas utopias da adopção de fetos pré-natais, dos testes de ADN para obrigar a mulher a ter o filho se o pai quiser e outras engenharias genéticas que também já andam à solta, não sei, não.
Se tu pensas que é bom travar o caminho para um lado; em vez de aparecer muito maralhal com essa intenção estabilizadora, o que sucede é aparecerem outros tantos malucos a reactivarem anormalidades idênticas...
Vou-me abster, pois. É mais por feeling. Costumo ter bom olfato para detectar paranóias. Vou-me guardar para o outro daqui a um ano: aí ao menos, até se pode votar contra só para chatear, que não faz mal a ninguém
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E, ainda por cima, lgoo agora que a psicanálise acabou, é que dá para desconfiar se o Freud não tinha razão...
Tu lê-me este taradinho do Selavoje da ziquéca e diz-me se o problema dele não esse mesmo em que estamos a pensar... E vais aos taradinhos das pulsões paternais por fetos que "elas destrem nas barrigas" vais ver se a problema não é idêntico.
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destroem, Até me engasgo com essa destruição explosiva...
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e depois, já nem se lêem livros para reflectir um pouco: consomem-se, sofregamente e não sobra nada para o positivo da vida.
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Sempre a aprender: «uma longa vida hedonista -todos os prazeres reais serão proibidos ou severamente controlados (cigarros, estupefacientes, comida...)» - e compara-se isto à pena de morte. Tiago, esses ditos autores de esquerda são maus, já se lê! Devem ser daquela esquerda que é tão apreciada à direita, que de tanto serem esquerdistas acabaram como o Pacheco ou o Fernandes a serem mais papistas que o papa. Mas com este argumentário também podia postar isto: «Os que defendem o "carácter sagrado da vida", que consideram ameaçado por poderes transcendentes que a parasitam, acabam num «mundo supervisionado onde viveremos certamente com toda a segurança, sem dor, mas esse será supremamente um mundo entediante», um mundo onde, por amor ao seu próprio desígnio - uma longa vida hedonista -todos os prazeres reais serão proibidos ou severamente controlados (cigarros, estupefacientes, comida...)".» O título do post? "Ainda o aborto".