sexta-feira, dezembro 29, 2006
Atropelados
Estou a ver que as minhas comunhões com o Miguel se limitam às mulheres (o que já não é comungar sobre pouco). Deixem-me acusá-lo do modo mais altissonante possível.
O post "Hemenêutica emética" já vai onde quero (desconhecendo se com esse propósito e quem o escreveu, embora aposte que seja o Sami - Samuel Úria para os católicos). O problema capital do Miguel é o da sua fidelidade. O Miguel mais a Ana Berta Sousa, o José Manuel Pureza, a Marta Parada e a Paula Abreu querem ser razoáveis antes de ser cristãos (doença de muitos outros cristãos, no nosso país sobretudo católicos). Há sempre muitos mas, muitas contrapartidas, muito erotismo desejado com os não-da-fé, muito progressismo nebuloso. No final, desconhecemos se lemos um católico ou um vulgar sindicalista.
O Carlos Cunha já respondeu bem na caixa de comentários (eu embirro muito com o esquerdismo do CC mas reconheço-me no seu fundamentalismo ginasticado). Deixem-me apenas frisar uma ou outra coisinha.
A verdadeira questão que subjaz nesta conversa do aborto tem a ver com o sexo comover mais as pessoas que a ética da procriação. A discussão começa sempre com o acto do prazer consumado: esse sim permanece sagrado, intocável, indiscutível. Temos nós o direito de meter-nos na alcofa da população? O cristianismo pensa que sim (assim como qualquer religião respeitável ou até mesmo o marxismo). Hoje só se gasta a saliva depois do sémen derramado. Na minha perspectiva, poderíamos sonhar que outro mundo é possível e que nem sempre os escrotos têm de andar vazios. Mas isto já é pedir muito. A cristãos e a todos os outros.
Que espaço fica? O da segunda circular que separa o cartaz do "com os meus impostos não" do "vamos acabar com a humilhação". Entre as faixas de rodagem dá ainda para o Miguel, a Ana Berta Sousa, o José Manuel Pureza, a Marta Parada e a Paula Abreu atravessarem, calculando as hipóteses de qual dos sentidos terá mais probabilidade de os atropelar.

Tiago Cavaco
posted by @ 7:33 da tarde  
14 Comments:
  • At 29 de dezembro de 2006 às 20:04, Blogger zazie said…

    ehehe pois é verdade que é um discurso de "católico progressista" o que é uam contradição em termos- o catolicismo terá, por natureza de sobrevivência- de ser sempre conservador.

    Mas olha que v.s os protestantes é que começaram com a ideia quando acharam que o preservativo e a diminuição da filharada até era óptimo para o rendimento familiar

    ahahahaha

    e não é por acaso que os judeus também sempre foram mais laxistas nestas questões: entre a sacralidade da vida humana e a do carcanhol, venha o liberal que escolha

    ":O+

     
  • At 29 de dezembro de 2006 às 22:59, Blogger Samuel Úria said…

    Sim, era eu no outro post. E ser reconhecido por um estilo é bom ou mau, neste caso?

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 02:55, Anonymous Anónimo said…

    Não, caro Tiago. Eu sou muito mais cristão antes de ser razoável. Mas também sou razoável, na forma como vivo no mundo. Nada de atropelos.

    E da sobrevivência do catolicismo, preocupa-me pouco, cara Zazie. Não somos progressistas só porque temos estas opiniões. Esse adjectivo é teu, não meu, nem nosso. Mas o catolicismo não tem de ser conservador, nunca o foi, sobretudo nos gestos de Jesus! Mas isso deve ser rosário que não quererás entender.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 10:17, Blogger zazie said…

    Ó Miguel: eu estava a brincar com o epíteto dos "católicos progressistas". Um dos católicos progressistas que mais admiro é o Benard da Costa e nada tem de "progressista".

    O problema são as palavras. Conservador significa aquele que deseja conservar o que é bom. E eu desejo conservar o Catolicismo e a igreja Católica. Para a dissolver no mundo já bastam os evangélicos (que, por acaso, até cuidam mais de a conservar...)


    O que eu queria dizer é que é importante distinguir as directivas e dogmas da Igreja, do trabalho social dos leigos.
    E, o que me pareceu, é que tu estavas a confundir os campos e a criticar a Igreja por não fazer o trabalho deles.

    Beijinhos

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 10:21, Blogger zazie said…

    E nunca te esqueças que eu não sou muito católica. Já me fartei de explicar que grande parte disto é admiração cultural. A outra é ética e gosto pela manutenção do maior pilar civilizacional. Do único que ainda possui uma só cabeça.

    ehehehe
    esta agora foi só para chatear.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 10:27, Blogger zazie said…

    Já agora, só para fazer um desenho e a coisa ficar mais clara, até te dou um exemplo de um "irmão" vosso.

    O Timshel: é um danado de um esquerdalho católico (daqueles das bandas da Opus) e perfeitamente conservador, ainda que totalmente anti-capitalista.

    ahahahaha

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 14:05, Anonymous Anónimo said…

    A questão, Zazie, o aborto é dogma da Igreja?! Aprendo sempre. Ou percebi mal?!

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 14:43, Blogger zazie said…

    Vou comprar chocolates mas ainda te respondo:

    Dogma da Igreja é a sacralidade da vida humana. A questão de fundo do aborto está toda aí.
    Basta um bocadinho de Hstória para se saber que sempre foi assim.

    O dogma é simples- vem da passagem das Criaturas de Deus- da fase primitiva da Igreja, para a supremacia do Adão, feito à semelhança de Deus- o Homem que possui a alma sagrada, a tal chama divina. E por isso há vidas mais vidas que outras, como há uma ideia de Criação de Vida como milagre divino que está acima da vida já feita do pecador.

    E vejam só, como obrigaste a dar uma lição de catecismo ao vigário.

    É que sem se perceber que esta é a diferença- a do milagra da criação de uma vida humana com alma divina, não vale a pena perder tempo com as vidinhas desgraçadas ou penas de morte ou outras tretas. Isso são problemas laicos.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 14:45, Blogger zazie said…

    Até te podia mostar uma seringa baptismal da Idade Média.

    Sabes como funcionava, como era? tinha uma cruz na ponta e destinava-se a baptizar um feto cujo nascimento estivesse em perigo de vida. Para não se ir em pecado.

    É daqui que tudo deriva. Por isso é que eu também acentuo que esta questão é essencialmente religiosa. De todas as religiões.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 14:51, Blogger Pedro Leal said…

    O pior, Zazie, é que essa sacralidade da vida humana não tem correspondência noutros campos, como o da pena de morte, por exemplo (sim, eu sei que o Vaticano condenou a execução de Saddam, como eu condeno), ou mesmo na guerra. Essa sacralidade apenas tem lugar e só acontece quando se discute o aborto e a eutanásia (e até há uns anos a fertilização in vitro, por exemplo!). E isto não são problemas laicos.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 14:52, Anonymous Anónimo said…

    [o último comentário é meu]

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 15:05, Anonymous Anónimo said…

    [e bom Ano, sem vidrinhos, Zazie!]

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 17:22, Blogger zazie said…

    Bom Ano para ti, rapaz. E melhor sorte com os sacanas dos patrões
    eheheh

    Também tenho uma ex-patroa que me deve uma pipa de massa. E ganhei o processo em tribunal para nada. Mais valia ter contratado uns "pretos e ucranianos" que, nessas coisas, até trabalham melhor.

     
  • At 30 de dezembro de 2006 às 17:27, Blogger zazie said…

    A questão da sacralidade da vida é complicada e deves saber como eles a explicam: o que é sagrado é o poder da Criação da Vida.
    E é verdade que é um poder que o ser humano não é capaz de reproduzir, por si só. E também é verdade que é uma vida que podia vir a ser muita coisa (incluindo safar-se e ser feliz) e cujo destino fica na mão de outrem.

    Por uma mera questão de falta de instinto, quanto a mim. No reino animal não existe este problema e ´há pessoas com mais instinto que outras. Nem tudo se reduz a "aprendizagens" e técnicas. Por isso e´que as miudinhas em idade fértil são as que mais facilmente até têm o filho (apesar de poderem existir mil entraves).
    Penso eu.

     
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