quarta-feira, dezembro 20, 2006 |
“Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros" |
Na catequese de um dos domingos deste ano, o Cardeal Patriarca de Lisboa, entre outras coisas, escreveu: "Segundo o ensinamento de Jesus, toda a Lei de Deus se resume num único mandamento: o do amor".
Penso que a Bíblia deve ser lida à luz deste único mandamento que o Senhor nos deixou.
Esta é a única chave para a existência humana.
Com a Bíblia e esta "chave" já está meio caminho andado. O outro meio caminho é, do meu ponto de vista, como refiro aqui, a Igreja Católica, a principal ajuda interpretativa que disponho para bem utilizar a chave. É que, também como referi aqui no Trento na Língua, o orgulho é um pecado capital.
A propósito de interpretação da Bíblia, gostaria de chamar a atenção para o conto de Natal que César das Neves escreveu aqui esta semana. Contém precisamente uma excelente leitura/metáfora de um episódio bíblico sobre o papel e o lugar da economia numa sociedade. Que deve ser, do meu ponto de vista, o de ajudar à vivência dos valores cristãos em comunidade.
timshel |
posted by @ 5:21 da tarde |
|
7 Comments: |
-
timshel
Quando lês outros livros, o Graham Greene por exemplo, também precisas de uma "ajuda interpretativa"? Provavelmente em casos pontuais usas o dicionário ou um livro de História, mas, no geral, julgo que consegues perceber o que está lá escrito. Então porque há-de ser diferente com a Bíblia? Não estou a dizer com isto que a comunidade não é necessária. O pastor prega. Outro crente dá-nos a sua perspectiva. Mas há uma diferença fundamental entre sermos nós a processar as palavras e elas já virem mastigadas, prontas a engolir.
-
David mas a Biblia não é um romance do Graham Green. É possível um leitor atual ler e interpretar o sentido da Bíblia. Mas mesmo assim é necessário o respeito de alguns princípios da Hermeneutica (interpretação) bíblica. Não sucede apenas com a Biblia, qualquer texto filosófico ou científico implica certos princípios e conhecimentos, não é leitura directa e linear. Claro que é sempre mais fácil para alguém banhado na cultura cristã (tem e compreende as mesmas referenças semióticas), do que para um abexim compreender a Bíblia, mas mesmo assim... nunca é igual ao Graham Green...
-
cbs
Só para clarificar o que disse. Claro que qualquer leitura precisa de ferramentas. Mas o que me parece estar aqui em causa sermos nós a interpretar, com essas ferramentas, ou fazerem a interpretação por nós.
-
david
a Igreja Católica de agora, com todos os seus defeitos e virtudes, não é a Igreja Católica de há quinhentos anos (com todos os defeitos - e virtudes - dessa época da Igreja)
a liberdade é um valor fundamental
as palavras não vêm mastigadas, prontas a engolir mas sim como pontos de reflexão aplicados aos tempos actuais
o catecismo da Igreja Católica exprime pontos de vista com uma autoridade especial para um católico e eu procuro reflectir profundamente nos conselhos que eles transmitem
mas sou livre de discordar (e discordo da formulação de alguns)
a minha condição de católico em nada é perturbada por essas divergências e muito mais grave seria cair na tentação de considerar que sei pensar muito bem pela minha própria cabeça sem aceitar os conselhos de ninguém (ou sem aceitar que certos conselhos têm uma fonte qie os torna particularmente importantes)
o que não impede, bem pelo contrário, repito, que a decisão seja da minha consciência e dela tenha que assumir a exclusiva responsabilidade
mesmo com um padre confessor particularmente exigente se a negação de algum ponto do catecismo se traduzir num pecado, a permanente assunção de que o assunto continua a ser examindao pela nossa consciência é suficiente para que o pecado seja perdoado (um padre normal faz aquilo que Cristo mandou, perdoar "setenta vezes sete"...)
por outro lado, não vejo o catolicismo como um bloco blindado de regras lógicas, coerentes e maciças
vamos imaginar que em tempos em que fui ateu me casei com uma ateia, que continua ateia sem admitir a possibilidade do casamento católico
por esse motivo não posso confessar-me e comungar?
embora já tenha ouvido padres a pronunciarem-se que me poderia confessar e comungar nesta situação parece-me que os que dizem que tal não é possivel estão mais perto da doutrina católica
e depois?
as pessoas têm que assumir que nem tudo pode ser feito
se eu tenho estes limites, tenho que os assumir
deixo de ser católico?
eu penso que não e felizmente que ninguém tem o poder de decidir tal coisa
-
O que o Tim diz é a realidade do Catolicismo actual David, a Igreja Católica é plural. Mas dou-te também razão David, no sentido que "sermos nós a interpretar" é o essencial da Fé, porque sem isso é Fé cega que se aproxima do fanatismo.
Devo dizer aliás que tenho tanta divergencia com Roma que me sinto um protestante disfarçado de católico (e digo-o na Igreja). Acontece que o meu temperamento também é conservador e não será nunca por mim a ruptura com a ICAR. Penso mesmo que a preservação da instituição romana é um dos fortes factores de consistencia do cristianismo no século XX, de que até os outros ramos, incluindo o ortodoxo, beneficiaram de alguma forma; na projecção, na competição...
O Vaticano a meu ver é o caroço do cristianismo :) e esta? hem?
-
"O Vaticano, a meu ver, é o caroço do Cristianismo". Ó caro amigo, diga lá o que quiser, mas não repita isso de novo. Isso é uma ofensa capital que nem com milhares de "avé-marias" se safa.
-
timshel
A propósito do comentário do David, gostaria de chamar a atenção para o magnífico texto: http://www.cantalamessa.org/pt/avvento2005I.htm sobretudo o ponto "2. Kerigma e didaché"
|
|
<< Home |
|
|
|
|
Um blogue de protestantes e católicos. |
|
Já escrito |
|
Arquivos |
|
Links |
|
|
timshel
Quando lês outros livros, o Graham Greene por exemplo, também precisas de uma "ajuda interpretativa"? Provavelmente em casos pontuais usas o dicionário ou um livro de História, mas, no geral, julgo que consegues perceber o que está lá escrito. Então porque há-de ser diferente com a Bíblia?
Não estou a dizer com isto que a comunidade não é necessária. O pastor prega. Outro crente dá-nos a sua perspectiva. Mas há uma diferença fundamental entre sermos nós a processar as palavras e elas já virem mastigadas, prontas a engolir.