O desempregado até prova em contrário é um chulo. Não faz nenhum, encosta-se no remanso da televisão ou no balcão da taberna, a beberricar o dinheirinho dos contribuintes que todos os dias se levantam e vão para o emprego, das nove às nove que o patrão exige muita produtividade.
O suspeito com termo de identidade e residência até prova em contrário é criminoso, foi ele e mais ninguém que assaltou a loja,
de certeza, é preto o gajo! ó sô polícia leve esse gatuno, não há mais nada a dizer.
Eu até prova em contrário sou a ovelha tresmalhada. Afinal, a árdua tarefa que me cabe é inexplicável. Ou então não. Julgava eu que andava aqui a explicar factos, argumentos, e não meras adjectivações sobre as posições dos outros, questionamentos sobre a minha fidelidade (ou sobre a minha fé, já agora: no fundo, no fundo, serei um perigoso ateu travestido de católico progressista que está do lado errado da Segunda Circular, numa insidiosa piada futebolística).
Passe a caricatura, Tiago. Mas achei que, a
o exagero do título do teu post e do tom quase inquisidor do texto, merecia caricaturar antes de dizer de mim, antes da minha árdua tarefa. É isto mesmo: aceitar a alteridade e viver o diálogo correspondem, para mim, em termos absolutos à experiência cristã, de encontro com os outros, com os publicanos e pecadores, com os fariseus e samaritanos. Nos
comentários a afirmações da Zazie, nos
posts da
polémica, escrevi e mantenho, sem grandes formulações: "não há hierarquia moral ou autoral para ditar «
uma directiva». Os dogmas são poucos e importantes e de outra ordem, de outra grandeza, não me atrapalho com estas «
directivas» menores, acerca do aborto ou de outras. Agora dizer que «
uma directiva da hierarquia católica acerca do aborto não é trabalho de campo dos leigos» é negar o ser-se cristão (para mim, para muitos, não quero ofender outros aqui da casa). O cristão mete as mãos na massa, trabalha-a, cresce com ela, vive nela. Não há galhos quando se é. [...] A minha condição de leigo (laico, como lhe chamam) é a de alguém que prefere o "alto contraste" no que merece o contraste: por que carga de água procurar o entendimento com os outros é entrar nas "águas lamacentas"?! Isto separa-me radicalmente das
visões separatistas de muitos cristãos: eu estou no mundo, sou do mundo, não vivo fora dele, enclausurado numa redoma a que chamo Igreja, e onde tudo o que seja possibilidade de entendimento com o que está de fora é infecção. As minhas águas fundem-se como as do rio e do mar, sem lamas, sem vómitos."
Talvez falte aqui grande argumentação teológica, ou citação versicular, mas para mim a minha fidelidade é deste tempo.
Miguel Marujo
Pois eu estou de acordo contigo: também sou pelo diálogo entre "publicanos e pecadores, com os fariseus e samaritanos.
Em prova disso, tenho a dizer-te que, para além dos chocolates, também acabo de trazer para casa uma das pedras que os sacanas dos brasileiros me atiraram à janela.
Assim, para a próxima, o "diálogo" sempre pode ficar um pouco mais equilibrado.
Se for preciso até atiro um chocolate primeiro e só depois vai o pedregulho.