A citação do Scott não evita que levante o sobrolho, apreensivo. As premissas avançadas parecem-me falsamente axiomáticas pois sugerem-me, no mínimo, duas questões originárias do seu próprio enunciado. A primeira prende-se com a minha impossibilidade de desirmanar conceptualmente o “estudo” do “relacionamento” (menos ainda do “conhecimento através de um relacionamento”). Não que “estudo” seja sinónimo exclusivo de “relacionamento”, também desnecessariamente inclusivo; é impossível, contudo, esquivarmo-nos da implicância de uma relação num estudo e, se quisermos, da necessidade de estudo numa relação - é-lhes comum um objecto de incidência. Nunca saberia dar-me com Deus se não estudasse (não há aqui um estrito sentido escolástico da coisa) a forma revelada de como me devo dar. Uma relação implica relacionamento de conceitos, que pode ser fruto, conduzir, ou ser ela própria um estudo. A vinda de Jesus acabou com a mediação sacrificial, mas não me parece que tenha promovido o afrouxamento do conhecimento exploratório. Contra os sabichões fariseus Cristo armou-se muitas vezes de racionalidade e pensamento dedutivo, como quem diz: “vocês são uns espertalhões, mas aprendam lá mais umas coisas; isto não vai lá com o conhecimento irredutível da tradição, mas ainda lá vai menos com desconhecimentos”. Qualquer parábola é um convite à decifração antes da relação. Olhemos para os "lírios do campo" para limpar os óculos; depois olhemos para Deus.
A segunda questão levantada pauta-se pela insuficiência da conclusão nos próprios dados que a formulam. Pois se é impossível limitar o ilimitável, também não teremos a infinitude suficiente para com ele nos relacionarmos. Se apenas podemos fazer incidir o nosso estudo sobre aspectos estudáveis de uma entidade inescrutável e infinita, também só nos podemos relacionar com as partes relacionáveis de uma entidade soberana e infinita.
Parece que não temos uma lupa suficientemente grande para ver o infinito de perto, mas já temos braços de tamanho suficiente para o abraçar.
Samuel Úria
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Foi só a citação que me levantou reservas. Do Scott nã tenho nada a apontar. É um gajo porreiro e eu gosto muito dele.