sexta-feira, março 06, 2009 |
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A Fé é uma porta que se abre por dentro.
Pedro Leal |
posted by @ 7:41 da manhã |
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18 Comments: |
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e penso que é isso, o abrir por dentro, o aderir ou recusar, que justifica o livre arbítreo. aquilo que Lutero designa por servo-arbítreo, que no fundo, é uma escolha limitada entre o bem e o mal, não reduz, antes impõe a liberdade. A liberdade é real e torna-se quase uma pena. Julgo que foi das poucas coisas decentes afirmadas pela ontologia de Sarte: estamos condenados à liberdade.
e a discussão entre Erasmo e Lutero, torna-se redonda... penso eu de que ;)
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Sim. Pequena frase que diz tanto. E por isso medir a forma e a força da semente de mostarda depositada por Deus no coração de cada qual, é algo que nem sei se deveríamos fazer; ou como; ser água e terra para a semente de Deus crescer no outro na forma da planta que o próprio Deus nele configurou, e não na nossa. Mas tudo isto é dificílimo, e basta contemplar a história da(s) Igreja(s) ou a nossa própria para estremecermos de medo.
abraço, Pedro
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PS: "a nossa própria" falo por mim, claro e precisamente ;)
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Só uma nota. A frase deve ser lida no seu contexto: blog cristão. A Fé (com maiúscula) é a fé em Cristo, a fé salvadora. Se, como diz o Vítor, a fé dos outros pode ser (nem sempre é) uma incógnita para nós, sobre a nossa temos que ser claros.
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A porta abre-se por dentro. Mas se não houver um bater à porta, por fora, pode ficar fechada. E resta saber qual é a mão que, por fora, bate na porta...
por isto, de acordo, a semente éstá lá, mas temos de tentar ser claros, quando dizemos Fé.
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Claro que sim, Pedro; mas ser claro na nossa fé e nas nossas especificidades nesta, não corresponde necessariamente a obscurecer as especificidades ou fés e não-fés de outrém; e tal é precisamente um dos aspectos da dificuldade que referi, e que considero sagrada. Bom fim de semana.
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e só uma nota: eu não digo que a fé do outro é uma incógnita, a não ser porventura na intersubjectividade obscurantista; digo é que a sua forma específica e trajecto interior possa ser ou estar numa dinâmica e conteúdos diferentes da nossa; e que o aferir e juízo de tal é algo que requer cuidado e temor; temor sagrado, entenda-se, de interferirmos ilegitimamente no trabalho do oleiro, e este temor funda-se e executa-se, como se sabe, na e em agape.
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de acordo também Vitor. Sim, temor, temor sagrado... mas, apesar disso, temos de arriscar. E, no diálogo, arriscamos sempre, não é?
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ó cbs, poupa-me a porreirismos ingénuos ou iludidos. nem todo o bicho que se exprime ou fala está numa dinâmica dialogante. e tu é que andas a estudar política ou que raio é LOL
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:) mas vês como arriscamos, vês... com uma resposta dessas dás-me é razão.
pois então devo dizer-te que não acredito em diálogo nenhum que não seja também relação de poderes.
O Monólogo evidencia uma afirmação, contudo essa afirmação esconde sempre uma esperança de aceitação (à força) do outro; Mas a Comunhão não é assim tão diferente, porque para pôr enfase naquilo que é comum, só dissimula o choque, nada mais. A diferença existe sempre. Sejamos porreiros pois ;)
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nada contra o porreirismo, pronto :) apenas o perigo das ingenuidades e o abismo das ilusões.
e se não há nada puro, nem água, nem terra, nem ar, tal como não há rectas reais rigorosamente rectas, isso não significa que tais modelos ou conceitos não devam servir para o que servem: orientação prática ou expressão do anseio pelo bem que vimos mesmo que não o consigamos agir (ou no melhor dos casos, não consigamos agir de modo satisfatório).
o diálogo é conceptualmente a base da consciência reflexiva; a base da ética; a base da amizade; etc; não tem apenas que ver com parlapiê; há atitudes fechadas e anti-dialogais, o que nada tem que ver com afirmar ou negar algo mas com nem ter os princípios dialécticos que possam sustentadamente afirmar ou negar seja o que for; gritar e agredir sem escutar, por exemplo, são atitudes e parlapiês anti-dialogais; a comunhão ou é dialogal, com ou sem parlapiê, ou é relação de forças brutas (mesmo que sejam as de “quem fala melhor”); dito isto, claro que não há dialogalidades puras, como referi, a não ser porventura na trindade divina LOL
o problema não está na relação de poderes, mas na sua orientação, legitimação, etc
a diferença é sempre primeira; há porventura diferenças essenciais e diferenças acidentais, ou como se quiser determinar a coisa. isto é, espero não deixar de ser o Vítor quando ficar careca LOL; e o meu vizinho não deixa de ser humano por ser não ser cristão.
c’ est três simple quand même, e muito concreto; até porque não há palavras vãs, isto é, que não tenham remissões vitais.
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ser não ser cristão LOL
já pareço o Hamlet, fónix
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sim.
mas sabes o que me parece? a unica relação de não-poder, a relação amorosa por excelencia, a do Pai para o filho, não será de sujeição? sujeição voluntária, completamente livre... será? acho que já falamos nisto, e vejo a alusão do Ratz no que ando a ler, apropósito da verdade e da liberdade, lembras-te?
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eu tenho cá uma suspeita que a relação intra-trinitária é de igualdade potencial e valorativa; o Filho não é sub-deus ou uma sub-vontade. a unificação da vontade é dada na mutualidade amorosa. o fiat não é obrigatoriamente uma constante, mas um momento decisório de extrema gravidade. e por isso tantas vezes Deus poderá fazer uma vontade orada. as analogias de submissão, poder etc podem baralhar as voltas. a categoria fundamental da agape parece-me ser a da liberdade. o mano Agostinho resolve a questão do fiat (e tantas outras) com a problemática divisão de por vezes ser a humanidade de Jesus a exprimir-se (Afasta de mim esse cálice, por ex) e outras a divindade (Tudo está consumado, por ex). a incarnação é que nos baralha as voltas completamente ;) e ainda bem
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PS: o Ratz, pois; acrescento papal LOL: sendo Deus a verdade, negá-lo seria negar-me a mim mesmo (Wojtyla, enquanto poeta) não tenho aqui os versos à mão mas é isto mesmo; e é belo, é verdade, é bom; simplesmente)
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"do Pai para o filho" eu não quiz dizer Filho (não quiz referir a Trindade) É à relação de Deus como nosso pai que eu me referia. E então sim, a sujeição do Seu filho à injustiça humana, é aí que vejo o Amor, completo e livre... parece-me, sei lá eu...
o Ratz relativiza a Liberdade comparando essa atitude com a relativização da Verdade que o espirito moderno trouxe em simultaneo com a sagração da Liberdade; e que o é a liberdade?... põe então a questão.
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um dos pontos pertinentes do Ratz penso ser, na tradição que ele aponta como cruzamento possível entre o profetismo judaico e o helenismo, algo ranhosamente sintetizado assim: libertar-se da verdade é ficar presa de falsidades e ilusões (ídolos e sofismas) e anular assim a primeira.
quanto à citação do Wojtila, fui verificá-la e oh Deus meu, sim tem o significado da minha ranhosa lembrança. mas é tão mais verdadeira e profunda com um pequeno elemento que lhe acrescenta que até merece para um dia uma citação oficiosa ;)
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"a primeira" refere-se mal e porcamente escrito a "a liberdade" LOL
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e penso que é isso, o abrir por dentro, o aderir ou recusar, que justifica o livre arbítreo.
aquilo que Lutero designa por servo-arbítreo, que no fundo, é uma escolha limitada entre o bem e o mal, não reduz, antes impõe a liberdade. A liberdade é real e torna-se quase uma pena. Julgo que foi das poucas coisas decentes afirmadas pela ontologia de Sarte: estamos condenados à liberdade.
e a discussão entre Erasmo e Lutero, torna-se redonda... penso eu de que ;)