segunda-feira, março 02, 2009
Sobre o post anterior. Ou: Da tirania do profeta isolado.
Vítor Mácula acusa-me de não representar fidedignamente o Islão tal como ele se define por autoridade que Vítor Mácula prefere não atribuir, mas deduzo que, tal como a Bíblia não contribui para a sua representação do cristianismo, suponho que o autor deste 'islão' seja Vítor Mácula também. No processo, nega o sacrifício expiatório de Jesus Cristo como é historicamente reconhecido enquanto ortodoxo - como, por exemplo, no Credo Apostólico, que um católico-romano como ele devia subscrever para se chamar católico-romano. E não vê nisto inconsistência. A única variável comum e concordante em ambos casos é Vítor Mácula.

O sistema de defesa do islamismo nada diz sobre as falhas lógicas corânicas. Não há penalização dos pecados dos islâmicos salvos: há abébia. O que o mártir faz ao rebentar o dispositivo de explosão para morte dos infiéis nunca é castigado; aliás, é compensado, pois foi exercido em nome de Alá. Tudo é lícito sob esta autoridade, que é escrava, na sua construção cosmovisionária de justiça, dos actos dos homens que assim agem por Alá - enquanto nome autojustificante. O que os apologetas maometanos corânicos obram para cobrir esta incoerência é com eles. Óbvio que nunca admitiriam o lapso de justiça de Alá. Tal como Vítor Mácula nunca admitiria o vácuo chamado 'fonte autoritativa' para a sua teleologia e teologia, até agora, no nosso blogue. Exemplo:


'[N]a unicidade divina, não pode haver contradição entre a sua justiça e a sua
essência amorosa, ou outro atributo divino qualquer'.

Mais razão dá à Palavra. Amor para ser amor deve odiar o que não é amor. Um deus 'amoroso' que vê o homicídio, o genocídio, o racismo, a pedofilia e os males humanos mais subtis e, sem mais nem menos, ama a chacina e destruição que vê passivamente não é amoroso de todo. Não cumpre justiça alguma. Em vez de ser misericordioso e compassivo ao ponto de tomar ele mesmo o lugar do pecador imperdoável para o perdoar, prefere ser negligente ao deixá-lo malfazer e indulgente ao nada interferir para a reparação da injustiça feita, sem ser despensado - note-se - do fundamento do pecado original para não ser responsabilizado pelo pecado humano. Pior é que o atributo da justiça é inexistente segundo Vítor Mácula (que é a fonte autoritativa da resposta de Vítor Mácula). Porquê? Nada é punido senão o infiel que não formulou a proclamação maometana, ou não matou por Alá e suas virgens, ou não sucumbiu nas mãos dos evangelistas do terrorismo. Ou, segundo Vítor Mácula, o 'cristão' que não conhece a justiça do 'Deus cristão' segundo Vítor Mácula.

Lembro que toda a argumentação do post anterior foi para culminar neste clímax argumentativo, que vem da atitude descrita com humilde de quem nega 2000 anos de ortodoxia cristã para além da Palavra que os apóstolos nos preservaram:



'E todo o resto, por muito barulho e resplendor, por muito fulgor e adoração,
por muita palavra e convicção, na verdade – não passa de medo e solidão'.


Vítor Mácula quer-me sozinho e temerário. Provavelmente em posição fetal, chuchando no dedinho. Mas não vai acontecer, amigo. O meu temor é ao Senhor, e não a ti. E o teu resíduo inquisidor não se sobrepõe a isto. No meio de tanta pretensão pregressista e hipertolerante, Vítor Mácula descamba no ad-hominem, como é hábito. E argumentar ad-hominem é o que também me vejo forçado a fazer, pois não distingo o 'cristianismo' que Vítor Mácula me prega de algo exterior - revelatório ou até humano - a Vítor Mácula. Mas graças a Deus pelo sacrifício expiatório em substituição dos pecados do povo eleito para a misericórdia! Permite-nos separar os pecados do pecador regenerado. Mais: as heresias do herege justificado.

Que glorificante é de Deus ter a Cruz como centro da nossa ontologia, epistomologia - e até diálogo humano.

É que o que vejo ser punido na Cruz em meu lugar diz demasiado sobre o meu mal para admitir o 'bem inerente' que a Palavra me nega, e a minha carne - e Vítor Mácula - me roga a crer.

Quem não celebra a Páscoa abnegado, não celebra Páscoa alguma.

Nuno Fonseca
posted by @ 9:17 da tarde  
13 Comments:
  • At 2 de março de 2009 às 23:38, Blogger cbs said…

    Lamento imenso, leio o discurso todo, perco-me, volto atrás... Concentro-me, ligo frases, perco-me de novo...
    Graças a Deus que os livros em que estudo são bem mais simples. Essencialmente, o que daqui retiro, é que nem os meus irmãos não se entendem, nem Alá sabe onde é que acabam, como dizia alguém...

    Contudo, peço-te desculpa Nuno, mas creio que o Vítor coloca um dedo num ponto importante: "nego a interpretação do cordeiro imolado enquanto pagamento de uma dívida, no sentido estrito, isto é, como na mercearia"
    Eu talvez não fosse tão afirmativo, até porque tenho pouca Bíblia. Mas no fundo da minha alma – que é onde, ainda que baçamente, O encontramos todos – não consigo, não consigo mesmo descortinar nada além do Seu Amor; e o Inferno, sim, mas como consequência exclusiva da minha acção, não como Sua justiça... O Amor que Dele, o Amor que me trespassa, é impossivel causa sofrimento; pelo contrário é na minha recusa, que surge a minha condenação. A etibuição parece coisa humana, Dele, que me procura, só consigo descortinar um imenso Amor.

    Soará isto a dispersão, a facilitismo ilegítimo? talvez seja o pomo da discórdia, não entre evangélicos e romanos, mas entre humanos, demasiado humanos…

     
  • At 3 de março de 2009 às 02:23, Blogger zazie said…

    «o racismo; a pedofilia; o machismo; a burka, o anti-semitismo; a homofobia; transfobia; os crimes de ódio fantástico...»

    falta alguma coisa à cartinha?

    Acho que falta- falta o mesmo e sempre eterno processo inquisitorial e aquele contentamento por se estar do lado certo de quem acusa.

     
  • At 3 de março de 2009 às 02:27, Blogger zazie said…

    e há também um erro lógico- não é ad hominem, é ad puto neófito

     
  • At 3 de março de 2009 às 13:16, Blogger Pedro Leal said…

    Não é bem uma questão de mercearia. É mais de salário: “O salário do pecado é a morte”, Romanos 3:23. Deus demonstra o Seu amor por nós ao entregar o Filho, Jesus Cristo, para receber o nosso salário. É nisto que consiste a Graça. Mas quem quiser pode receber o salário que lhe pertence. O que Deus não deixa de fazer, porque é justo e santo, é pagar o salário merecido.

     
  • At 3 de março de 2009 às 13:52, Blogger Pedro Leal said…

    Este comentário foi removido pelo autor.

     
  • At 3 de março de 2009 às 13:53, Blogger Pedro Leal said…

    ops, a referência correcta é Romanos 6:23.

     
  • At 3 de março de 2009 às 14:52, Blogger Vítor Mácula said…

    Sim, Pedro, o salário é uma analogia pertinente; teríamos ou teremos de confrontá-la com a parábola do senhor da vinha e com a chuva e o sol que cai sobre todos; a questão parece-me residir na não-vontade de trabalhar na vinha ou de ir à boda; mas penso que tal também não significa que consigamos e devamos nós, humanos, identificar o trigo e o joio; parecem-me mais indicações de estrita auto-orientação e mutualidade eclesial, de assembleia cristã... é uma questão densa, penso eu, tanto historicamente como tematicamente, pessoalmente, etc

    ops, nem dei a referência bibliográfica das remissões bíblicas LOL

     
  • At 3 de março de 2009 às 16:51, Blogger Nuno Fonseca said…

    Zazie, cheirou-te a sangue?

     
  • At 3 de março de 2009 às 18:18, Blogger zazie said…

    Nuno:

    A sangue não- mas fedeu a savonarolaria de capoeira.

    E com a cartilha da moda bem decorada. Até parecia um post jugular

    ":OP

     
  • At 3 de março de 2009 às 18:19, Blogger zazie said…

    Mas ainda te falta muita tarimba para acólito estalinista.

     
  • At 3 de março de 2009 às 18:22, Blogger zazie said…

    Outra coisa:

    Meti-me na historieta porque estes teus posts são completamente ateus.

    E tu bem sabes que eu tenho aqueles ódios de estimação a bodes militantes, jacobinos e inquisidores- mesmo que em versão acólita de capoeira.

     
  • At 3 de março de 2009 às 18:33, Blogger Nuno Fonseca said…

    É um post ateu quanto a Alá. E a deuses criados sob os desejos e necessidades humanas; à imagem das nossas realizações. Mas tal não é Jesus Cristo, que nos frustra tais pretensões e nos ofende no que mais humano há na nossa humanidade.

    O resto: whatever.
    Estarei sempre com os neófitos zelosos: São Paulo, São Estêvão, Agostinho, Calvino, John Knox, Puritanos, etc...

    Tudo mancebaria que usou o cúmulo enérgico das suas juventudes just to keep the passion for the Lord alive.

     
  • At 27 de fevereiro de 2017 às 07:38, Blogger Unknown said…

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