quarta-feira, abril 02, 2008
Súmulas Sobre a Educação Portuguesa.
I
A princípio, rebelei-me contra a avaliação de professores, mas quando testemunhei os protestos folclóricos e a greve bacanal do professorado, desejei que o Estado a apressasse como um armagedão de sobriedade descafeinada.

II
O Processo de Bolonha, e mais propriamente a sua aplicação desponderada em Portugal, apenas provou o nosso provincianismo terceiromundano, do tipo que importa da Suécia modelos arquitectónicos de escolas primárias, mantendo as estalagens de esqui.
Que, pelo menos, não nos traga o índice nórdico de suícidios desse país, o mais ateu e arficialmente bronzeado do mundo.

III
O caso Carolina Michaelis despertou o país para geração pós-moderna que se nos nasceu nietschziana, gatinhou amoralmente, aprendeu o passo andado sem a fé dum caminho salvífico, e agora nos bate como um huno medieval por uma SMS interrompida, calando a nossa autoridade sobre ela, que não podemos justificar sem um Bem e um Mal absolutos, e uma super-entidade universal, digamos Deus, que os legisle.Cito o prémio-nobelizado JM Coetzee, na perspectiva de quem lecciona:

'He has long ceased to be surprised at the range of ignorance of his students. Post-Christian, post-historical, post-literate, they might as well have been hatched from eggs yesterday'.

Não julgando a adolescente sobre-hormonada, cujo maior crime foi ser captada no YouTube, peço as vossas orações pela minha geração amaldiçoada, e por um sistema de mensagens escritas mais inteligente.

Nuno Fonseca
(Também disponível em http://subcristao.blogspot.com/)
posted by @ 8:54 da tarde  
17 Comments:
  • At 3 de abril de 2008 às 15:07, Blogger samuel said…

    Não seja por isso... já que está tão carente de "avaliação", aí vai: Fraquinho!
    Mesmo assim fico com uma dúvida. Porque é que uma manifestação de 100.000 professores num universo de menos de 150.000 é folclore e sobretudo, porque é que é bacanal?
    Sempre que vê mais que duas pessoas juntas já é bacanal? Você só pensa nisso? A partir de quantos fiéis na igreja é que já se pode considerar folclore e bacanal? E se alguns dos fieis da igreja forem professores? Podem ir ao "bacanal" da manifestação, ou é pecado ter ideias que não sejam dadas pelo pastor? E quando os pastores participam em bacanais, quer dizer que são professores de alguma coisa?
    Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas... mas pronto. Aleluia, que tristezas não pagam dúvidas.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 00:20, Blogger Nuno Fonseca said…

    Samuel: descafeinado.

    Apenas vejo historicamente mais sucesso em manifestações feitas sem adereços à Mardis-Gras e cânticos burlescos à ministra, mas antes simples greves sectárias e negociações sindicais com o Min da Educação, com provável apelação aos homólogos em Bruxelas.

    Enfim, a parte do protesto que resultou.

    Do teu comentário, perdi atenção depois da parte do "Pastor... bacanal... pastores... bacanais... folclores... professores... bacanais... pastores'.

    Bah.

    Só espero que o teu 'Fraquinho!' seja vociferado à Ricardo Araújo Pereira.

    Paz.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 11:30, Anonymous Anónimo said…

    Penso que o Sr. Fonseca já tem avaliações a mais neste blog e, como tal, de fraco, nada tem. Não querendo especificar pormenores, repito: nada mesmo.

    O bacanal é óbvio que se trata de uma forma embelezada e caricata de chamar àquela multidão. O Sr. Fonseca não pensa só "naquilo", você se calhar sim, porque perdeu-se no meio da palavra "bacanal". Entusiasmou-se de tal maneira que perdeu o fio à meada.

    Teve graça.

    Inte


    Fátima Santos

     
  • At 4 de abril de 2008 às 12:26, Blogger Vítor Mácula said…

    O discutível termo de “pós-modernidade” corresponde à assumpção do fracasso do projecto iluminista, isto é, da razão auto-esclarecida e auto-orientando-se produzir uma universalidade cognitiva, artística e ética. Enfim, também tem servido para desinformadores religiosos e ateístas produzirem um fantasma que corresponde a amoralidade, numa afirmação neurótica de que há uns horrorosos seres que para aí se passeiam para além da História, da inteligibilidade, da moral etc Com isto também vai por arrasto o filósofo da criação de valores (que por focar-se em tal, precisamente, inclui a dinâmica sem alternativa de bem e mal, que é precisamente o lugar onde se constituem valores, anteriores à alternativa ética definida a partir deles). Nada disto tem que ver, claro, com a problemática do fracasso da modernidade, que é o que está afinal em jogo. Dá jeito para a linguagem panfletária, pseudo-polémica, que tanto alimenta as representações publicistas de que estamos de saco cheio, nós, a geração rasca e à rasca ;)

    O processo de Bolonha é uma bardachice, assim como os pacotes de orientação legislativa europeia, da agricultura à restauraçãoe por aí afora e adentro. Mas por motivos que não têm bem que ver com o fracasso da modernidade iluminista. São aliás a sua continuação no modo alienado e negocial.

    Um abraço, Nuno, bom fim de semana

     
  • At 4 de abril de 2008 às 12:39, Blogger Nuno Fonseca said…

    Caro Vítor,

    Defendo que a pós-modernidade representa a reacção ao fracasso do iluminismo e da modernidade, porque se afastou de todo da razão pura e da verdade absoluta. No fundo, é relativismo, nem mais nem menos, recusando o factor de união entre os diversos universais, e celebrando a fragmentação do pensamento e sociedade humanas.

    No caso da adolescente sobre-hormonada que não compreende a autoridade da professora, revi um bom exemplo do que acontece quando uma geração é educada a escolher e decidir-se pelo que lhes parece bem, tendo o apoio incondicional dos pais até nos mais crassos erros, e sendo desprovidos de ética e moral, e--mais que isso, Deus--sem os quais a obediência a um indivíduo fisicamente menos apto à disputa física, como a doutora nos seus 40s, é injustificada.

    Bom f-d-s, Vítor.

    Paz.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 12:48, Blogger Vítor Mácula said…

    O que é "relativismo, nem mais nem menos"? É relativo ao quê? Ser relativo ao relativo é uma capicua incompreensível.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 12:51, Blogger Vítor Mácula said…

    E a pergunta seguinte é: pode a razão pura abarcar verdades absolutas? A própria apogditicidade do projecto crítico de Kant não é absoluta. Ou por outra: o que é "verdade absoluta"?

     
  • At 4 de abril de 2008 às 13:32, Blogger Nuno Fonseca said…

    O relativismo posso definir como a atitude sujectiva de negar uma realidade factual exterior, e aceitar apenas percepções subjectivas sem menor ou maior grau de validade lógica, que, neste mindset, nem existe. Resumida, é a resposta que escutas quando dizes que há um único Deus verdadeiro: 'Isso é a tua verdade'.

    Verdade absoluta é aquela que declara o estado real e lógico das coisas, e que deve ser autêntica e comprovável sempre e em todo o lado. Resumido, é o que houves quando Yhwh, Deus de Israel diz: 'Ayah asher ayah', 'Eu sou Aquele que sou'; e que criou escuridão e luz, um sim e um não, um bem e um mal.

    Paz.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 13:50, Blogger Vítor Mácula said…

    Não percebo muito bem o que queres dizer… as percepções subjectivas são o acesso à realidade factual exterior. Outra questão é qual o estatuto desse acesso, qual a sua transparência e opacidade. Quanto ao fantasma do mindset do grau zero da lógica, não passa dum bode expiatório que não corresponde a nada nem a ninguém. O que se passa é que a absolutização da razão é problemática e deixa muita coisa intocada. Refraseando então: Pode a razão pura abarcar Yhwh?

    Quanto ao positivista “comprovável em todo o lado” falas de que universo(s)? Há universos onde a fé não é comprovável ;) O melhor dos mundos possíveis é uma tese difícil.

     
  • At 4 de abril de 2008 às 16:51, Blogger cbs said…

    vocês tão bons um pró outro meus manos, lololol
    Paz Paz

     
  • At 4 de abril de 2008 às 17:16, Blogger Vítor Mácula said…

    lol… pazcoa pazcoa…

     
  • At 5 de abril de 2008 às 00:32, Blogger Nuno Fonseca said…

    Mano Vítor,

    Somos demasiado herméticos um para o outro. Para abstracto já chego eu. Mas vou tenta ser mais óbvio.

    A percepção subjectiva traz-nos, é certo, o acesso à realidade objectiva. Mas não se trata de caricaturização minha dizer que no pós-modernismo--que é uma era pós-racional, pós-histórica, pós-científica, e pós-tudo--se crê que o conhecimento humano se finda na percepção subjectiva, e que conceitos como lógica ou matemática seriam apenas inventos da mente humana, que quer acreditar que o universo é cogniscível, medível, comprovável. Mas não. O pós-modernista apenas é convicto que a sua existência humana se resume a um acidente cósmico que resultou no cromossoma da sua espécie, reproduzindo e evoluindo tautologicamente, e que todas as bases da sociedade do homem--a religião, a história, a ciência, a política--após desconstruídas, apenas são condutores pelos quais a propagação do sémen da nossa raça é possível.

    Apenas no cristianismo, sob a voz do Deus dos absolutos do género 'Assim disse o Senhor', ou 'Assim está escrito', ou 'Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida', é que o impulso cognitivo pela descoberta do universo e sua realidade objectiva é possível, e, mais especificamente, a ciência, esse acto de fé profundamente cristão, é praticável.

    Quem te diria mais e melhor sobre o assunto era o Dr Vinoth Ramachandra, engenheiro nuclear e filósofo, um evangélico nascido no Sri Lanka com uma mente genial, usada para a glória de Deus, e de quem muito aprendi no Grupo Bíblico Universitário. Pena já ter saído de Portugal.

    Por fim, respondo que a razão não abarca Deus, pois Ele é inconfinável, mas, antes, é o Senhor que simultaneamente abarca a razão e é, Ele mesmo, 100% razão:

    'En arkhe en ho LOGOS, kai ho LOGOS en pro ton THEON, kai THEOS en ho LOGOS'--João 1:1

    Paz.

     
  • At 7 de abril de 2008 às 12:26, Blogger Vítor Mácula said…

    Bons dias, mano Nuno

    Huuuum… essa do abstracto e do óbvio faz-me pensar em engenheiros que pensem que a geometria não tem muito que ver com a construção de pontes ;)

    “no pós-modernismo--que é uma era pós-racional, pós-histórica, pós-científica, e pós-tudo”
    Mostra-me alguém, teórico ou comportamental que não use de racionalidade, de história pessoal e colectiva, de conhecimentos de diversa ordem (nem a menina do telemóvel nem o Derrida correspondem). O desconstrutivismo é uma técnica da suspeita que afere planos de sentido, que vão bem para lá da propagação do sémen. Mesmo um Peter Singer (que nada tem directamente a ver com desconstrutivismos) tem como pressupostos na sua antropologia, e por decorrência, na sua ética, determinações de bem-estar e realização que vão bem para lá da sobrevivência e continuação da espécie (a partir da valorização da individualidade da vontade, por exemplo). Isto não significa que não é possível encontrar criaturas humanas totalmente irracionais, a-históricas e a-epistemológicas (enfim…) mas sobretudo que não correspondem ao momento cultural geral. Este alarmismo da desumanização do humano, alertando para a cultura contemporânea – popular ou intelectual, concreta ou abstracta – como se esta se reduzisse a uma animalidade tresvariada, não corresponde ao que se passa. Claro que é sempre agradável ao ego demonizar os outros, numa subconclusão que nós, ao contrário deles, somos humanos e espirituais e éticos. O que me parece passar-se é, para além duma tomada de consciência que muitos universais culturais, conceptuais ou religiosos, são afinal regionais no tempo ou no espaço, é uma antropologia em que o corpo vivido se mostra com uma disjunção bem menor entre as pulsões e os conceitos (éticos, societais, pessoais…) do que a dicotomia cartesiana concebia.

    “Apenas no cristianismo, sob a voz do Deus dos absolutos do género 'Assim disse o Senhor', ou 'Assim está escrito', ou 'Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida', é que o impulso cognitivo pela descoberta do universo e sua realidade objectiva é possível, e, mais especificamente, a ciência, esse acto de fé profundamente cristão, é praticável.”
    Bem, não podes pressupor que há universais da razão pura e afirmar tal exclusividade científica, penso eu. Para além de, historicamente, a afirmação de que só a partir do cristianismo, e apenas dentro das culturas cristãs, haja realidade objectiva e cientificidade – é uma falsidade gritante. Voltamos à demonização dos outros para gaúdio do próprio ego pessoal e colectivo (nós, os cristãos, os melhores do mundo; o resto é monstruosidade e ignorância…)

    “Ele mesmo, 100% razão”
    Não, no sentido cristão. Jesus chora, revolta-se, tem fome, etc A não ser que afirmes a posição gnóstica da disjunção entre a humanidade e a divindade (o corpo e os afectos seriam da parte humana e a razão da divindade, tornando evidentemente a humanidade uma mera aparência). O Deus revelado em Jesus é um escandâlo para o ídolo conceptual que a razão concebe como Deus, mas isso já o sabia muito bem S. Paulo; o que não lhe configura evidentemente nenhuma anti-racionalidade, mas tão só que todas as suas determinações cognoscíveis ou mistéricas se unem na sua essência, a saber: ágape, amor, abertura (e é por tal que a sua unidade é imediata e substancialmente trinitária.


    Não conheço o Dr Vinoth Ramachandra. Obrigado pela dica.

    abraço

     
  • At 8 de abril de 2008 às 01:25, Blogger Nuno Fonseca said…

    Mano Vítor,

    Se eu mesmo não sou autoridade para definir o pós-modernismo e o que de irracional há nele, passo o esférico ao Noam Chomski:

    'There are lots of things I don't understand -- say, the latest debates over whether neutrinos have mass or the way that Fermat's last theorem was (apparently) proven recently. But from 50 years in this game, I have learned two things: (1) I can ask friends who work in these areas to explain it to me at a level that I can understand, and they can do so, without particular difficulty; (2) if I'm interested, I can proceed to learn more so that I will come to understand it. Now Derrida, Lacan, Lyotard, Kristeva, etc. --- even Foucault, whom I knew and liked, though he despised me, and who was somewhat different from the rest --- write things that I also don't understand, but (1) and (2) don't hold: no one who says they do understand can explain it to me and I haven't a clue as to how to proceed to overcome my failures. That leaves one of two possibilities: (a) some new advance in intellectual life has been made, perhaps some sudden genetic mutation, which has created a form of "theory" that is beyond quantum theory, topology, etc., in depth and profundity; or (b) ... I won't spell it out'.

    1- Não se trata de demonização da cosmovisão pós-modernista, pois ela mesma celebra o obsoleto da lógica e duma verdade absoluta, agora que se evadiu alegramente da possibilidade divina, e que duvida histericamente dos sistemas de medição que chamamos ciência, e que se ri ao reduzir a própria a mera validez de argumentos, mas, por sua vez--e lembro-o a título de exemplo--aceita num Derriada a unicidade do ser masculino por possuir um pénis. Mas não julgo que me tenhas respondido neste ponto.

    2- 'historicamente, a afirmação de que só a partir do cristianismo, e apenas dentro das culturas cristãs, haja realidade objectiva e cientificidade – é uma falsidade gritante'.

    Neste caso, terás que me explicar os porquês dum Renascimento, dum Iluminismo, duma Revolução Industrial e Científica, e de toda uma Modernidade, pois só os remonto a sociedades de raíz cristã, sob axiomas que propõem um universo cogniscível, inteligível pelo ser humano, feito à imagem e semelhança dum Deus que o muniu duma percepção que permitisse entender o conhecimento e inteligência por trás da Criação, e reconhecesse circularmente um Criador, e O amasse. Vou ao ponto de dizer que, só no Ocidente, não existiria Newton nem Einstein, nem Descartes nem Schoppenhauer, se não abandonarmos antes a mundividência pagã e supersticiosa dum Platão que acreditava num mundo dualista, onde o homem jamais poderia sondar o divino, e se confinaria à escuridão das trevas da caverna da sua percepção limitada, iludida.

    3- Não compreendo a tua confusão trinitária.

    O Pai é 100% o Deus;
    O Filho é 100% o Deus;
    O E.S. é 100% o Deus.

    Adorando o Filho, que é o Logos--ou seja, a Palavra ou a Razão, segundo a Escritura--amas todo o Deus. O facto de Jesus chorar ou revoltar-se não demonstra irracionalidade, mas somente sentimentos de Deus, que herdámos, como também o ódio, a inveja, a ira--se é que deves a tua incompreensão à ideia de que estas emoções sejam erradas. Já a fome e a sede representam algo da Sua humanidade, mas de novo não compreendo a cisão que subentendes aqui: quando Jesus falava, escutava-se a Palavra de Deus, e a Razão do Senhor, como cogniscível e perceptível ao homem--não que ali se confinasse--mas que naquele instante se revelava verdadeiramente.

    Por isso digo que, sob a experiência da trindade, nos podemos relacionar com Deus através da Razão, e assim prová-lO. E isto não conflitua com a fé, porque, como já atentei, a própria ideia de que podemos chegar ao facto através das nossas capacidades cognitivas, é um acto de sola fide.

    Paz.

     
  • At 8 de abril de 2008 às 10:54, Blogger cbs said…

    Nuninho, meu filho :)

    Apesar de não ter tempo para vos
    ler, senão correndo, e concordando com muitas das vossas opiniões, não pude deixar de reparar nesta parte:

    “terás que me explicar os porquês dum Renascimento, dum Iluminismo (…) e de toda uma Modernidade, pois só os remonto a sociedades de raiz cristã, sob axiomas que propõem um universo cognoscível (…) feito à imagem e semelhança dum Deus que o muniu duma percepção que permitisse entender o conhecimento e inteligência por trás da Criação (…) Vou ao ponto de dizer que, só no Ocidente, não existiria Newton nem Einstein, nem Descartes nem Schopenhauer, se não abandonarmos antes a mundividência pagã e supersticiosa dum Platão”

    Pois nisto, discordo e concordo com o Vítor: “a afirmação de que só a partir do cristianismo, e apenas dentro das culturas cristãs, haja realidade objectiva e cientificidade – é uma falsidade gritante”.

    Não indo já a outras culturas, não menores (Índia e China medievais, por exemplo) onde a questão do “objecto” se colocou de uma forma diversa, que põe em causa as nossas certezas de ocidentais, atenho-me apenas ao “lado de cá”.
    E por "cá", tanto na Grécia – nessa do paganismo platónico, tenta lá convencer Sto Agostinho, lol - como no Império até Constantino, tudo caminhou em torno dum mesmo conceito de “objecto”, e por natureza sem Cristianismo.
    Depois, no Renascimento, parece-me evidente que a Modernidade surgiu muito mais voltada para as coisas do Mundo (apesar do banho ser cristão, como nos descobrimentos), do que para Deus (de onde se foi progressiva e positivamente afastando), surgiu mais “apesar do”, do que “com o” Cristianismo – lembro Galileu, por exemplo.

    O Cristianismo actual é uma adaptação à Modernidade, na qual a Reforma e Contra-reforma são fundamentais. Não creio que se tenha mudado a essência, mas claramente houve uma adaptação à política, ao conhecimento e à inovação da modernidade.

     
  • At 8 de abril de 2008 às 11:16, Blogger Vítor Mácula said…

    Olá, Nuno

    Bem, o facto de o Chomski não perceber seja o que for, diz mais acerca do Chomski do que acerca do não percebido. Para o caso, suponho que teria que ver com o operador da adequação entre um conceito/representação/discurso e uma experiência/apresentação/facto. Evidentemente que questões de presença e intensidade não passam por aqui, trata-se do típico entendimento na estrutura sujeito/objecto, da qual evidentemente é requerida uma deslocação quando se trata duma interrogação e investigação ontológicas (o ser precede toda e qualquer determinação ou signo) tais como as de Heidegger, Derrida ou Deleuze.

    1. A mim parece-me que nos estamos a repetir sem mútua escuta, não sei. A crítica ao logocentrismo, que parte essencialmente da interrogação a uma ontologia que se fixou em representações e signos, não é uma negação da validade lógica ou racional (como exclama humoristicamente o pseudónimo kierkegaardiano Johannes Climacus: Honra a ciência! Honra à objectividade! Apenas que saiba que é um segundo momento da existencialidade, e nunca a sua origem ou sentido!). Não percebo donde sacas, seja da observação quotidiana, seja da tradição cultural, que há uma linha central e alargada (um ismo que caracterize a época) de total ilogicidade. O facto da verdade absoluta, ou tão só universal como o fundamento ontológico, não ser uma categoria nem uma representação visto que necessariamente as precede – é algo de racional e filosófico; trata-se apenas de saber que o método científico não atinge nem abarca o ontológico nem o absoluto, o que curiosamente serão até a maioria dos cientistas a confirmar que não é essa a sua área e competência. Não percebi a quê que não respondi.
    2. Bem, a tua ignorância da cultura árabe, indiana, chinesa, tanto nas suas tradições como na investigação contemporânea vai a par da recusa estrutural de deslocação ao outro. Outra questão, evidentemente, é a questão histórica das condições mínimas de bem estar para desenvolver determinadas actividades: num país devastado outras premências se levantam. E vai reler o livro VII d ‘ “A República” para veres se há indicação ou não da saída da caverna (tenho muita pena, mas a tradição iluminista de sapere aude! sair da menoridade, tem mais que ver com o paganismo e superstição de Platão do que com o cristianismo histórico). Quanto ao pressuposto que no helenismo (esses terríveis pagãos) como no hinduísmo (esses horrorosos idolatras) não há princípio de inteligibilidade e adequação entre o intelecto e o universo, mano, não sei que te diga… talvez estudares estas tradições e suas efectividades contemporâneas onde elas se dão enquanto tal e sem ser pela lente de apologéticos cristãos tão sedentários que a Samaria lhes parece o templo da sua infância.
    3. Não tenho confusão trinitária nenhuma. Afirmei apenas que Deus não é 100 % razão, ou que isto é pelo menos uma afirmação problemática tanto bíblica como especulativamente. Se fosse 100% razão, não choraria nem se iraria, como é evidente. Os teus próprios “novos” enunciados de 100 % põem questões à razão, tal como a relação entre ter nascido em Belém num data qualquer e simultaneamente ser o princípio ontológico a partir do qual tudo é feito. Repito: também aqui, não se trata de anti-racionalidades ou irracionalidades, mas de enfrentar ou não os problemas na sua densidade. Claro que podemos relacionar-nos com Deus a partir da Razão, mas confiná-lo a essa relação já é problemático (como ecoa teológica e historicamente toda a problemática das provas racionais de Deus, aliás). A sola fide e o cognitivo parece-me também ter alguma problematicidade.
    4. Nota bene: interrogar ou detectar problemas e perplexidades, não é negar nem invalidar.



    Paz e palheta ;)

     
  • At 8 de abril de 2008 às 13:48, Blogger Vítor Mácula said…

    PS: O Logos johanino não é nem o logos estóico, nem muito menos a ratio cartesiana, embora evidentemente se possam e devam estabelecer relações e dialécticas entre tais coisas conforme são pensadas e vividas por cada qual.

     
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