quinta-feira, março 20, 2008
Do Escândalo.

Voltando para o Reino de Deus, onde todo o cristão mora em esperança do Dia, vim apenas lembrar os essenciais da nossa fé aos que entre nós crêem no que acreditam:


'Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Deus. Porque está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua louvará a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes o seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão'(Rom14:10-13).


O escândalo, na linguagem neotestamentária, é um lexema usado com mais ênfase na voz de Jesus Cristo, nas suas constantes exortações aos apóstolos, e aos mais que O escutavam:


'E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar de mim' (Mt11:6).


A mim, parece-me que o escândalo é a medida da nossa intimidade com o Espírito Santo, com a Verdade da Palavra, e com o Pai reconciliado, e, por vezes, sofro com o meu escândalo quando não reajo com a temperança e paciência que o meu Senhor mostra diante dos meus erros. Deprimo-me ainda mais quando revejo o meu escândalo nos meus irmãos, e concluo que o nosso escândalo é comunitário enquanto igreja ocidental e pós-moderna, e, muito francamente, duvido que a nossa atitude para com os incrédulos, os desviados, os homossexuais, os criminosos, os impuros, os extremistas, os abortistas, e todas as mais vítimas da nossa humanidade, seja a que o Nazareno mostraria, Ele que gozava a companhia de alcoólatras, idólatras, sexólatras, não vendo escândalo em mostrar-se entre eles santo e redentor. Doo-me mais quando recordo a igreja perseguida, que habitou as catacumbas do Império Romano, migrou pela Inquisição, e hoje é martirizada pelos ermos do Sudão, e não se escandaliza pelas nossas manicurices de cristãos do 1º mundo.

Maior é a obra do Espírito Santo dos massacrados em nome de Jesus, não se escandalizando da opressão do Mundo, e tomando a Cruz sobre os seus ombros, se mantiveram unos com o Salvador, em plena santidade. Mas comparo-me e comparo-nos, e desiludo-me. Porquê?

Pela blogosfera cristã, por exemplo. Perdemos tanta vez a nossa paz por tão pouco. Blasfemamos quando contrariados. Não somos calmos para quem nos calunia. Não nos calamos quando o descrente injuria. E, sobretudo, não avançamos em frente quando não seminamos o Evangelho em quem precisa, mas não o aceita. Mais: prendemo-nos em confissões e denominações, reabrimos chagas históricas para provar supremacias eclesiásticas no favor divino, examinamos a fé e a vida do irmão não admitindo que no-lo façam, e mostramos o nosso lugar no Corpo como estatutário e titular, esquecendo que à margem da Deus, isso nada vale, ainda para mais numa sociedade ateia e relativista como a nossa. Alturas houve em que não me revi na pessoa que blogava com o meu nome no Trento na Língua, e não vi edificação que se discutia, e sobretudo se disputava. Queria um repensar da fé nos católicos e uma reconciliação com os protestantes, mas nunca fomos além dos almoços em Alcântara, sem as abdicações e reconsiderações que o ecumenismo pede além das refeições. E isto tudo num blogue.

Mas penso que o Tiago tem neste blogue um fruto do Paracleto. Este lugar tem que existir na pós-modernidade, não como o José o propõe, que é uma promoção do cristianismo-evangélico e do protestantismo português por mera misericórdia e pena dos romanistas nacionais que se sentem culpados da Inquisição ainda que teologicamente superiores e como se Deus se preocupasse com isso, mas antes uma comunhão entre cristãos que mais se interessam pela emergência que se sente neste país por Jesus Cristo e por uma Igreja cristã que O represente, quando não a há no espaço físico. E isto tudo é o Trento.

Não nos escandalizemos: sejamos santos.
Vimos tudo o que o Mundo é capaz. Não o que Deus pode em nós.

Nuno Fonseca
posted by @ 1:20 da tarde  
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