sábado, setembro 22, 2007 |
É da natureza dos blogs |
ficar muita coisa por dizer e as coisas saírem naturalmente truncadas. Mas:
É achar que encontrar a Deus não implica encontrar a sua Cruz, e que a sua Cruz também é (como tão bem disse o josé) depararmo-nos com estados de espírito completamente avessos à fé que desejaríamos manter.
Falei de ideologia porque a ideologia é estática. Se eu acreditar em Deus como quem acredita no capitalismo (ou noutra coisa qualquer) então posso andar sempre a reconhecer no mundo todos os sinais da presença de Deus e cheio de vivências e alegrias. Mas são o tipo de alegrias parecidas às dos entusiasmados pelo mercado liberal que se maravilham constantemente com "a capacidade de reinvenção da sociedade capitalista, da resolução espontânea e não programada de problemas por parte dos agentes individuais do mercado". A ideologia encontra sempre pretextos para se confirmar a si própria, e como não compromete verdadeiramente, pode manter-se assim. As alegrias tornam-se essencialmente em buscas obcecadas de sinais que confirmem a ideologia que perfilhámos.
Coisa bem e totalmente diferente é a fé ser uma relação. Uma relação implica que está tudo sobre a mesa, rigorosamente tudo. E isso implica que haverá vezes em que nada parece fazer sentido, em que a nossa crença parece um tremendo absurdo ou uma enorme ingenuidade, em que suspeitamos que o tipo do lado que não a perfilha e que não tem "os nossos condicionalismos" se calhar vive muito mais feliz, em resumo, uma relação em essência. E essa implicará sempre a convivência com estes sentimentos e a sua resolução (ou pelo menos o assumir que eles existem). Não é deleitarmo-nos neles, ou ter até um certo prazer insidioso nestes "dramas e lutas interiores". É pura e simplesmente assumir que eles existem, porque sim, porque é da natureza das coisas (e concordo até com o Tiago na Voz do Deserto quando adivinha que a coisa será do demo). Caso contrário estamo-nos a alegrar com o vazio e a tentar a todo o custo tapar o buraco com uma histeria perigosa. Com o risco de a coisa ser toda muito angélica até ao dia em que dá fortemente o berro.
Isto não implica claro está que se deva viver em grande estado de suspensão teleológica ou dúvida existencial. Se a fé for saudável e constituir uma relação salutar com Deus, será sempre cheia de grandes alegrias e profundas vivências. Esse não era no entanto o âmbito do post.
Antonius Block |
posted by @ 12:07 da tarde |
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7 Comments: |
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essa descrição do efeito triunfalista da ideologia está espantosa.
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um belo post sem dúvida
mesmo para uma pessoa que, como eu, vive a fé muito ideológicamente :)
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Antonious estás a confundir as coisas. A questão é que nós vivemos de uma certeza que não cabe em teoria... é uma Fé absoluta que é experimentada na alma...que não admite dúvidas porque é provada...mas que não pode ser teoricamente traduzida.
Nem se pode chamar de Fé Protestante, porque ela não é baseada em postulados ou num conjunto de ideias e princípios religiosos...ela é mais do que isso, é uma Fé EXPERIMENTADA e ao alcance de todos.
Percebo que quem não a tenha experimentado fique teoricamente confundido, que a veja estática e que a confunda com ideologia.
Esse efeito triunfalista, a que se refere a Zazie, deriva do efeito da Palavra de Deus, que é Viva! O efeito das ideologias têm picos de sucesso, porém a Palavra de Deus não perde poder no tempo...é sempre a mesma, não muda.
A Fé daquele em que a Palavra de Deus operou o milagre da salvação, traduz-se numa alegria imensa, na reconcialiação do homem com a sua alma. É uma experiência vitoriosa e isso reflecte-se naturalmente no culto a Deus.
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Hadassah,
Fé experimentada? Tiveste visões, apareceu-te Cristo na cruz? E mesmo que tivesse aparecido, como garantias tu que não era alucinação?
Sempre gostei das reservas da Igreja nisso. Quando pululavam maluquinhas nos conventos a dizer que viam Cristo e Nossa Senhora, a primeira reacção era mandá-las ter juízo (não estou a dizer que seja o caso aqui). A Santa Teresa de Ávila bem que passou as passas do Algarve por causa disso.
Claro que há experiências de Deus na nossa vida. Mas elas são por natureza subjectivas, são leituras que fazemos da nossa vida, e não são de forma alguma "prova" de nada. E é perigoso quando não relativizamos as leituras que fazemos das nossas experiências Hadassah, muito perigoso... Foi aliás o próprio Deus que nunca se mostrou muito interessado em que lhe pesquisássemos demasiado os seus desígnios.
E mesmo que essas experiências abundem e eu é que tenha tido azar até agora Hadassah, estou coberto pelo Santo Evangelho. Pois foi dito a Tomé "felizes os que acreditam sem verem". Portanto mesmo que aches que esta é uma fé fraca, é uma fé coberta pela Palavra, Bíblica, logo digna de toda a aprovação não é assim? :P
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Nem sequer ousamos apropriarmo-nos de uma Fé exclusiva...não existe Fé Protestante...nós até dizemos que uma pessoa pode ser Salva em Jesus fora do circulo protestante.
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"Tiveste visões, apareceu-te Cristo na cruz? E mesmo que tivesse aparecido, como garantias tu que não era alucinação?"
Não se vê nada Antonius...nada de anormal acontece... Sente-se Deus como Verdade absoluta...a única coisa visivel aos olhos dos outros, são os efeitos de uma vida transformada...visões dessas como as que referes não trariam salvação a ninguém...e só me deixariam cheia de medo! :)
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Não sendo tão exigente como o Tomé, fiz prova D' Ele...não me contento só com o Belo e com contemplações.
..."Fazei prova de mim..." "Batei e abrir-se-vos-à"..."Buscai e achareis..."
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essa descrição do efeito triunfalista da ideologia está espantosa.