sexta-feira, fevereiro 23, 2007 |
Personalismo e Universalismo |
Para aqueles que só de fora o conhecem, o Cristianismo pode parecer desesperadamente complicado. Na realidade, considerado nas suas linhas mestras, ele contém uma solução do Mundo extremamente simples e espantosamente ousada. No centro e de tal modo aparente que nos desconcerta, a afirmação intransigente de um Deus pessoal: Deus-providência, que conduz o Universo com solicitude, Deus-revelador, que se comunica ao Homem no plano e pelas vias da inteligência. (…) Mas noutro sentido, também uma prodigiosa operação biológica: a da Incarnação redentora. Criar, completar e purificar o Mundo, já o lemos em S. Paulo e em S. João, é para Deus, unificá-lo unindo-o organicamente a si próprio (ser e ser uno não será identicamente a mesma coisa?). Ora, como o unifica Ele? Imergindo-se parcialmente nas coisas (fazendo-se “elemento”) e depois, graças a este ponto de apoio achado no âmago da Matéria, tomando a direcção e pondo-se à cabeça do que chamamos agora a Evolução. Princípio de vitalidade universal, Cristo, porque surgiu homem entre os homens, colocou-se em posição e está desde sempre em vias de curvar sobre Si próprio, de depurar, de dirigir e de sobreanimar a ascensão geral das consciências em que Ele se inseriu. Por uma acção perene de comunhão e de sublimação, agrega a Si próprio o psiquismo total da Terra. E quando tiver assim reunido e transformado tudo, alcançando num gesto final o Foco divino donde jamais saiu, fechar-se-á sobre Si mesmo e sobre a sua conquista. E então como diz S. Paulo “já não haverá senão Deus, Todo em todos”.
Forma superior de panteísmo, na verdade sem vestígio empeçonhado de mescla nem de aniquilamento. Expectativa de unidade perfeita, na qual cada elemento, porque nela mergulha, encontrará, ao mesmo tempo que o Universo, a sua consumação. O Universo a completar-se numa síntese de centros, em perfeita conformidade com as leis da União. Deus, Centro dos centros. Nesta visão culmina o dogma Cristão.
Tão exactamente e tão perfeitamente o ponto Ómega que, sem dúvida, jamais eu teria ousado encarar ou formular racionalmente a sua hipótese, se na minha consciência de crente, não houvesse encontrado não só o seu modelo especulativo, mas também a sua realidade viva.
Pierre Teilhard de Chardin, O fenómeno humano, Tavares Martins 1960 (pág.324, os eixos da crença) by cbs
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posted by @ 12:07 da tarde |
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5 Comments: |
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Evito, por fraqueza pessoal histórica (da minha história, não da História), a teologia de Teillard de Chardin. Fui em tempos panteísta, deísta (não teísta) e mesmo pagã, logo acabo por desconfiar um tanto dessa linguagem. Para não cair na falta de caridade típica dos conversos (os conversos são os inquisidores mais severos, tipicamente, e eu às vezes tenho laivos de inquisidora...), prefiro nem o ler, nem o comentar.
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cara Knit_tgz fico com alguma angústia e com anseios de caridade cada vez que vejo cisões dogmáticas. No caso deste extraordinário teólogo jezuita, a sua obediencia "como um cadáver, na traidição dos soldados de Jezus" foi motivo de muita angustia até ao fim da vida, e no entanto... é, creio, uma das grandes influencias na teologia católica actual. Ele confrontou os dogmas com as investigações e aquisições da Ciencia, mas fê-lo sem medo, com Fé e optimismo. Nessa atitude sou como ele, sigo-o. Caridade Knit_tgz...
Concretamente quanto a questão do Panteismo, de que Pierre Teilhard de Chardin também foi acusado, injustamente creio; A Fé cristã não é panteista, o Pai é transcendente, exterior à Criação, não se confundindo com ela. Ponto assente. Mas também é ponto assente que o fim da existencia será a união com o Pai, e Teilhard repete por isso S. Paulo: "já não haverá senão Deus, Todo em todos". É nesse sentido que diz: "Forma superior de panteísmo" não significando o Panteísmo clássico, mas antes a unidade perfeita com Deus no Final dos Tempos... o ponto Omega, como o início terá sido o ponto Alfa (o Big Bang?); é a esse processo que ele chama Cosmogénese e onde se insere a Evolução; O mundo orientou-se para o Humano, o Humano para Cristo e Cristo para o Pai.
Parece-me pois que Teilhard não sendo panteísta, afirma que o final da Teleologia Cristã, é um Pantéismo diferente, superior porque já fora do Tempo e da História.
Estou com ele nessa ideia e não é por aí que vejo divergencias com a Mater Ecclesiae.
Estou ainda com ele, quando dizia em 1937, que o que nos falta a todos, na Igreja de hoje, é uma nova formulação do que é a Santidade. Mas isto é a gente a falar, e quem sou eu... só gostava que não nos levem a mal que pensemos... e erremos, mas de boa Fé. :)
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Caro cbs,
Entendeste-me mal, talvez. Eu é que evito, por fraqueza minha, ler Teillard de Chardin. Por fraqueza minha, repito. Porque eu, eu sim, não ele, fui panteísta. E como tal, serei má pessoa para o ler. Por fraqueza minha, entende.
Às vezes, as nossas fraquezas tornam prudente afastarmo-nos de coisas boas, porque nós, com a nossa fraqueza, as podemos deturpar. E era a isso que me referia. Enquanto eu (eu, não ele, o Senhor o tenha na Sua glória!) não tiver bases de fé mais sólidas, evitá-lo-ei. Por mim e não por ele. Afasto-me dele porque _eu_ corro o risco de pensar heresias ou blasfémias, não porque ele as ensine.
Compaixão, cbs, compaixão por quem é inseguro ainda como eu...
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Knit Aqui os meus amigos sabem a Biblia quase de cor... eu como sempre sou calão e apesar de desde o inicio ter andado nas escolas da Santa Madre e ter tirado no bom tempo a comunhão solene, sou um básico. mas um básico que que acredita e tem uma paixão por Cristo. Apesar das falhas no rigor e na disciplina, que aliás respeito e admiro.
POrtanto, não te preocupes muito com as nossas (minhas e tuas fraquezas). Se tivermos amor ao próximo e boa fé, tudo é possivel; lembro-me de uma das frases de Jezus: Não tenham medo!
O cristão não precisa ter medo de nada, porque vê com os olhos da alma... por causa d'Ele tenho optimismo e confiança. por causa d'Ele não tenho medo das classificações que me façam. por causa d'Ele não tenho medo da Ciencia nem das duvidas que possa levantar à Fé. Desde que Ele me revelou que o Pai existe de facto e nos ama que perdi o medo.
peço-te paciencia também para os meus erros um abraço
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Evito, por fraqueza pessoal histórica (da minha história, não da História), a teologia de Teillard de Chardin. Fui em tempos panteísta, deísta (não teísta) e mesmo pagã, logo acabo por desconfiar um tanto dessa linguagem. Para não cair na falta de caridade típica dos conversos (os conversos são os inquisidores mais severos, tipicamente, e eu às vezes tenho laivos de inquisidora...), prefiro nem o ler, nem o comentar.