domingo, dezembro 10, 2006
Maria cheia de graça
«Para nós, católicos, não existem dúvidas acerca da "natureza" da Mãe do Filho do Homem, Jesus, um profeta ao lado de outros no Islão e Deus vivo para nós.» Assim nos dizia há dias João Gonçalves, numa discussão sobre o aborto. Perdoe-se-me a ignorância de muitas catequeses e leituras, mas o dogma da Imaculada Conceição é do século XIX e muito sinceramente não foi a chave máxima para a verdadeira Revelação que é a vinda de Jesus Cristo, Filho de Deus, ao nosso mundo durante dezanove séculos. E mesmo que se invoque que Ela era cheia de Graça, essa graça bastou para a acompanharmos em silêncio (como faz a Maria de Gibson - das poucas notas positivas nesse pavoroso filme que é a Paixão de Cristão), sem alarde de cultos excessivos.

Aquilo que sempre me importuna nestes debates, como católico assumido e com percurso sério e crítico nesta Igreja que somos todos (antes que alguém atire a pedra errada, de um lado ou de outro), é a infalibilidade destas nossas certezas humanas, enquanto esquecemos que há algo de mais radical na Boa Nova dos Evangelhos - a opção preferencial pelos pobres.

Do aborto, noto (como já o fiz em tantos locais e mesmo em espaços eclesiais) como a Igreja Católica é bem mais afirmativa “nesta” defesa da vida do que em outros momentos, que nos exigem muito. Além de que, no caso do aborto, a defesa da vida deve sempre ser formulada no plural.

Miguel Marujo
posted by @ 8:23 da tarde  
1 Comments:
  • At 10 de dezembro de 2006 às 22:56, Blogger cbs said…

    O domínio masculino sempre limitou o outro género; A Rerum Novarum dos anos trinta ainda considera que o destino “biológico” da mulher é o lar, e foi a guerra, especialmente a segunda, que para desespero dessa igreja velha, libertou a mulher no mercado de trabalho, emancipando-a até hoje (não fosse isso e... não sei).

    Mas a Igreja Católica esteve sempre contra corrente em questões relativas ao sexo, como o divórcio, a contracepção e o aborto.
    A ideia da Imaculada Conceição no entanto, é, creio, falada desde o século I com Marcos (na Liturgia que deixou no Egipto) ou André apóstolo que disse “era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente perfeita”.
    A questão doutrinal neste ponto é linear, pois sendo o filho imaculado, assim terá de ser a mãe.

    Onde questiono a Igreja é noutro ponto: ter a virgindade que ser Bem e a alternativa o Mal.
    Se a relação sexual for considerada algo abjecta, segue-se logicamente que a mãe de Deus terá de ser Virgem; mas porquê assim?
    Note-se que nem sequer recuso a possibilidade da virgindade de Maria (que sei eu), o que recuso é que o sexo seja manchado pelo opróbrio.

     
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