«Para nós, católicos, não existem dúvidas acerca da "natureza" da Mãe do Filho do Homem, Jesus, um profeta ao lado de outros no Islão e Deus vivo para nós.» Assim nos dizia há dias João Gonçalves, numa discussão sobre o aborto. Perdoe-se-me a ignorância de muitas catequeses e leituras, mas o dogma da Imaculada Conceição é do século XIX e muito sinceramente não foi a chave máxima para a verdadeira Revelação que é a vinda de Jesus Cristo, Filho de Deus, ao nosso mundo durante dezanove séculos. E mesmo que se invoque que Ela era cheia de Graça, essa graça bastou para a acompanharmos em silêncio (como faz a Maria de Gibson - das poucas notas positivas nesse pavoroso filme que é a Paixão de Cristão), sem alarde de cultos excessivos. Aquilo que sempre me importuna nestes debates, como católico assumido e com percurso sério e crítico nesta Igreja que somos todos (antes que alguém atire a pedra errada, de um lado ou de outro), é a infalibilidade destas nossas certezas humanas, enquanto esquecemos que há algo de mais radical na Boa Nova dos Evangelhos - a opção preferencial pelos pobres. Do aborto, noto (como já o fiz em tantos locais e mesmo em espaços eclesiais) como a Igreja Católica é bem mais afirmativa “nesta” defesa da vida do que em outros momentos, que nos exigem muito. Além de que, no caso do aborto, a defesa da vida deve sempre ser formulada no plural. Miguel Marujo |
O domínio masculino sempre limitou o outro género; A Rerum Novarum dos anos trinta ainda considera que o destino “biológico” da mulher é o lar, e foi a guerra, especialmente a segunda, que para desespero dessa igreja velha, libertou a mulher no mercado de trabalho, emancipando-a até hoje (não fosse isso e... não sei).
Mas a Igreja Católica esteve sempre contra corrente em questões relativas ao sexo, como o divórcio, a contracepção e o aborto.
A ideia da Imaculada Conceição no entanto, é, creio, falada desde o século I com Marcos (na Liturgia que deixou no Egipto) ou André apóstolo que disse “era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente perfeita”.
A questão doutrinal neste ponto é linear, pois sendo o filho imaculado, assim terá de ser a mãe.
Onde questiono a Igreja é noutro ponto: ter a virgindade que ser Bem e a alternativa o Mal.
Se a relação sexual for considerada algo abjecta, segue-se logicamente que a mãe de Deus terá de ser Virgem; mas porquê assim?
Note-se que nem sequer recuso a possibilidade da virgindade de Maria (que sei eu), o que recuso é que o sexo seja manchado pelo opróbrio.