sábado, outubro 31, 2009 |
Autoridade |
Faz hoje este blogue três anos. Faz também quatrocentos e noventa e dois anos que Martinho Lutero fixou na porta da Catedral de Wittenberg as noventa e cinco teses. Em jeito de comemoração, retomo a questão das indulgências, tema de forma alguma ultrapassado, já que no recente ano do Jubileu, por exemplo, ouve indulgências plenárias para quem entrasse por uma determinada porta. A imagem em baixo, tirada da net, é apenas uma entre muitas possíveis. E coloca a questão de sempre: autoridade. De facto, ficamos com duas hipóteses. Ou a promessa do Bispo de Coimbra se cumpriu, e quem recitou “devotamente a prece” pelo “Chefe Salazar”poupou cinquenta dias de purgatório – o que torna Deus aliado formal de Salazar. Ou o bispo enganou quem recitou “devotamente a prece” pelo “Chefe Salazar” e não houve qualquer alteração no pós-morte – o que coloca em causa a credibilidade do bispo. Pessoalmente, escolho segunda hipótese, pelo simples razão que a autoridade que reconheço, a Bíblia, não faz qualquer referência, ou a menor sugestão sequer, ao purgatório. E os camaradas e leitores do Trento o que dizem? O Bispo de Coimbra falou com a autoridade de Deus ou dos homens?
Pedro Leal
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posted by @ 6:40 da tarde |
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11 Comments: |
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Bem, também se pode perguntar se apedrejar uma mulher adúltera vem da autoridade divina ou da humana etc. Não me parece que seja por aí, não há essa pretensa pureza nos livros bíblicos: também eles são re(ve)lação: dinâmica entre o Deus que fala e o humano que interpreta e vive a interpenetração da palavra com a Palavra.
Quanto ao purgatório, que é um elemento de re(ve)lação da tradição eclesial, exprime a necessidade de graça total que a comunhão plena com o divino exige; e que nesta dinâmica, nem a própria morte detém a última palavra.
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Vitor
A graça total é Cristo. Lembra-te do ladrão na cruz. O cadastro não devia ser bonito de se ver, mas isso não impediu Cristo de lhe garantir que ainda nesse dia estaria com ele no paraíso.
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Não percebo muito bem a relação. Eu até concebo que um “ladrão na cruz” pode estar bem mais perto do que eu da tomada de consciência da desgraça própria e alheia, para abrir-se à graça de Cristo.A questão é o que distingue esse primeiro “santo cristão” do outro que estava ao lado e não se abriu à graça. A comunhão com Deus não é uma questão de cadastro. Nem sequer é primariamente uma questão moral.
Purgatório é o lugar existencial onde Deus purga (ou santifica;)
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Vitor
Sucintamente. Não há Purgatório. A graça de Cristo basta para estarmos limpos aos olhos de Deus. O castigo (as penas) que devia cair sobre nós, resultado dos nossos pecados, foi pago por Cristo na cruz. Quanto ao facto de um ladrão ter optado por Cristo e o outro não, eu imputo isso à soberania de Deus. A minha referência a este exemplo serve apenas para demonstrar que não é preciso uma “período de limpeza”. Para merecer o castigo de cruz, aquele homem devia ter feito coisas bem graves. No entanto, não precisou de cumprir nenhuma pena purificadora – nesse mesmo dia estava no paraíso.
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Olá, Pedro.
Até ver, “purgatório” tem que ver com a santificação que Deus opera. Nesse sentido, para ver se percebo qual a noção de “purgatório” que combates, e já agora perceber se sou ou não “ateu” dela ;) terei de começar pelo início, isto é, pela noção de santificação: Entendes a conversão como processo e consciência ou como operação imediata sem participação do próprio?
A conversão e a salvação não têm que ver com um pagamento quantitativo. Cristo foi vítima voluntária dos nossos pecados, revelando assim a iniquidade fundamental e sistémica de todas as nossas justiças e santidades. Não se trata do pagamento de uma dívida na mercearia de um deus mercador; “graça” é aliás o seu nome santificador. Neste contexto sucintamente descrito, a "purga" não é uma pena, mas a transformadora relação com Deus.
abraço
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Vitor
A questão tem a ver com o tempo em que acontece a santificação. Não vejo nenhuma referência bíblica a que isso prossiga após a morte física. Muito menos a possibilidade de “os que cá ficam” poderem interferir no processo, seja pagando missas ou outras coisas, cumprindo rituais ou rezando.
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não sei muito bem falar a linguagem dos mortos. arderão, sem dúvida. penso que não é ir contra Deus rezar por eles, continuar a amá-los, etc. bem pelo contrário. e isto nem é saber. é dever.
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A Igreja sempre foi capaz do melhor e do pior, ou não fosse necessário ser humana para continuar a missão de Nosso Senhor. Um frade um dia disse algo que vai soar mal mas fica aqui na mesma: a prova que a Igreja é protegida por Deus é ter conseguido sobreviver a tantos filhos da puta. E depois tem a Madre Teresa, o papa João Paulo II e outros santos cuja natureza e vida não têm paralelo...
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Luis
Maus e bons todas as instituições têm. A questão aqui é a autoridade.O Bispo diz, escreve-se no Céu, ou é outra a Palavra que merece confiança?
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