É que essa é precisamente a definição de paganismo: “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam.” Salmo 115: 4 a 8 É interessante que a possibilidade religiosa de Saramago seja a pagã.
Não compreendo muito bem em que sentido me perguntas pela concordância.
No sentido “saramaguiano”, tendo a entender o “silêncio de Deus” como um resultado de “não haver Deus”. Ora, nesta altura do campeonato, suponho que já deves supeitar – que acredito em Deus ;)
Relativamente ao paganismo, o que queres tu nomear com tal? Se é apenas uma determinação negativa (todo o não-cristianismo) circunscreves até onde vai ou pode ir o sentido cristão, mas nada determinas acerca do que lhe é exterior, reunindo o brahman mais místico ao ateu mais empírico na mesma “definição”. A relação que fazes da tua citação sálmica com o ateísmo militante do Saramago é do género: nada esclarece nem acerca de religosidade outra, nem acerca de ateísmos contemporâneos, limitando-se a confirmar-te no teu próprio cristianismo; é um pouco a atitude do Saramago também, que aliás poderia usar as mesmas palavras sálmicas no seu ataque ao cristianismo LOL
Claro que eu sei que acreditas em Deus :) Mas é intessante essa tua ligação entre cristianismo e ateísmo, porque recorda-me que uma das acusações que os primeiros cristãos tinham que enfrentar era precisamente de ateísmo. Não aceitavam outros deuses além do seu.
Ah, nesse sentido. Eu não conheço a obra do Saramago. Tive uma tentativa frustrada de leitura do “Memorial do Convento” e estou agora a ler “As intermitências da morte”. Não sei se serei ateu do “Deus” que ele pretende destronar ;) Mas estive a ver parte do debate entre ele e o Carreira das Neves, e formalmente, até concordei exegeticamente com o Saramago: a exegese deve explicitar e esclarecer a leitura literal, e não substitui-la. Deve-se abrir a letra aos seus potenciais significados, mas sem apagá-la; e isto nem é um exclusivo da “leitura bíblica”, trata-se de honestidade de leitura.
PS: esta citação do Saramago foi retirada da fidedigíssima fonte do Correio da Manhã, 8/9/09, rubrica Pensamento do Dia LOL Parece-me que põe o problema que une um certo ateísmo ao grito de Job: a aparente inacção de Deus perante a injustiça dos homens e da vida.
Concordas?