sábado, setembro 22, 2007
Sobre este post parece-me que a questão nem é bem essa.

Os evangélicos são o protestantismo possível neste tempo. O protestantismo luterano está morto e enterrado, e só nas admirações/fantasias que os povos mediterrânicos sempre tiveram pelo suposto "despojamento" e arcaboiço intelectual do dito cujo é que ele ainda tem qualquer tipo de projecção. Não tenho qualquer tipo de fantasias quanto ao protestantismo luterano (até porque o conheci), aquela esterilidade e falta de devoção física e de acção do espírito não se poderia aguentar durante muito tempo. E não aguentou. Aliás repare-se que não foi o protestantismo luterano que evangelizou a América do Norte (pelo menos na sua forma pura, a grande misturada que é a Igreja Episcopal ou Anglicana não se pode propriamente apelidar de luterana). A capacidade de proselitismo de Lutero foi nula, e a sua vivência religiosa corresponde a uma condenação ao definhamento do cristianismo (o cristianismo está completamente moribundo em qualquer país de tradição puramente luterana e as igrejas luteranas nesses países estão bem mais aflitas do que qualquer crise de vocações católica pode fazer crer).

Os responsáveis pela evangelização protestante foram em muito maior grau os elementos das comunidades religiosas puritanas que sistematicamente cortavam com a Igreja Anglicana ou a Luterana (e donde descendem historicamente os nossos amigos protestantes aqui ou pelo menos alguns deles). E esses sim tinham uma vivência da fé mesmo assim mais próxima do catolicismo, mais carnal, mais visceral. Essa é a condição fundamental para o sucesso da evangelização.

Antonius Block
posted by @ 12:33 da tarde  
10 Comments:
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:05, Blogger zazie said…

    Que curioso. O meu desfazamento destas coisas e desconhecimento prático delas leva-me a não me aperceber do fundamental.

    De facto, a imagem que ainda tenho de protestantismo é muito mais literária que concreta. E o pouco que conheço de assistência a culto anglicano não podia nunca entender o mundo evangélico. Porque esse é que só conheço de tv ou video, ou agora aqui.

    Mesmo assim deixo-te a pergunta: e então como é que se mantem a Igreja Ortodoxa. Porque ela mantem-se. Não se descaracterizou e não perde assim fiéis. E não me parece andar a reboque da necessidade de "vender" tudo ao espectáculo só para aliciar fiéis.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:10, Blogger zazie said…

    E ainda sobra a curiosidade histórica. A tradição em Portugal foi de uma boa dose de afastamento ultramontano. O que marcou por cá foi o protestantismo luterano. Como é que dele se passa para o evangélico de tradição americana?

    Não creio que se possa dizer que é uma natural descendência histórica, apenas religiosa.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:21, Blogger Luís Sá said…

    A mim parece-me que a Igreja Ortodoxa é algo de completamente diferente. Precisamente porque têm a crença na presença real e nos sacramentos, em todas essas realidades visíveis e sensoriais. Não é que o protestantismo actual tenha surgido por necessidade de "vender o cristianismo", simplesmente parece-me que este mantém-se precisamente porque também incorpora realidades sensíveis (sobretudo o pentecostal, que é o que está verdadeiramente em expansão).

    Quanto à tradição luterana zazie... Mas qual tradição luterana? Em Portugal? Onde? A igreja evangélica alemã é luterana mas o nome diz tudo, é alemã. Mesmo os anglicanos que cá existem (a tal Igreja Lusitana) são basicamente um excerto de "colonos" ingleses.

    A Assembleia de Deus da qual julgo que a Hadassah faz parte foi criada nos EUA (a inspiração original digo que o esquema eclesial não é centralizado como na IC). A Beguina é pastora da Igreja Presbiteriana, também de influência anglo-saxónica (embora neste caso não saiba se foi trazida por ingleses ou não). O Tiago é baptista, cuja grande força também é como se sabe nos EUA.

    Mas é melhor que sejam os próprios a contar, já que saberão muito melhor do que eu a história das suas respectivas congregações.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:21, Blogger Luís Sá said…

    excerto ---> enxerto

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:34, Blogger zazie said…

    tens razão, Antonius. Eu estou uns séculos desfazada destas questões. Ainda vou no século XVI e XVII e apenas em questões de influência teórica.

    Quanto ao que dizes em relação aos ortodoxos perfeitamente de acordo. Até é muito mais ritualista que a nossa e por aí não há maneira de desvirtuar nada.

    Ainda existe outra questão. Posso estar enganada. Mas todas as religiões que mantêm a igreja, o espaço sagrado tradicional (ou porque ocuparam as católicas, no caso dos anglicanos, ou porque ainda as mantêm, nos ortodoxos) estão muito mais protegidos dessa dissolução no espectáculo das seitas.

    Num culto ortodoxo não há a menor hipótese para o efeito psicológico do oficiante. Estão todos fechados na iconostase.

    Eu coloco estas questões por causa do mesmo caminho para onde muita gente empurra o catolicismo. O que vale é que este Papa fez finca-pé e não dá chance

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:38, Blogger Luís Sá said…

    Olha o que encontrei:

    "O Professor Franz J. Leenhardt, teólogo de Genebra, fazia recentemente esta análise: o Catolicismo e o Protestantismo são duas expressões da mesma realidade. Uma é expressão extrovertida e a outra a expressão introvertida. Leenhardt lembrava que o extrovertido vive dos olhos, do tocar, do apreender a realidade com os sentidos, e o introvertido vive dos ouvidos, da escuta, do apreender a realidade pela meditação. O Católico, extrovertido, precisa do ritual, do gesto, do movimento, da hierarquia, de tudo o que e exterior, incluindo as imagens, as aparições, enfim, o que cativa os olhos. O Protestante, introvertido, precisa da Palavra e nada mais. É uma análise sob muitos aspectos esclarecedora."

    Gostei sobretudo do "precisa". Eles não "precisam". Exactamente o mesmo argumento usado por ateus para os que "precisam" de Deus. Mas o artigo até está bem feito. Foi aqui:

    http://www.igreja-presbiteriana.org/Documentos/Artigos/Cat-Prot1.htm

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:42, Blogger Luís Sá said…

    E não é que é mesmo muito jeitoso o documento que eles têm aqui? Sim senhor, muito honesto na exposição e na defesa das suas posições.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 13:50, Blogger zazie said…

    Parece-me mesmo muito rigoroso. Obrigada pelo link, vou ler o resto.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 14:07, Blogger Luís Sá said…

    O que me surpreendeu no homem (que ao que parece é pastor) foi sobretudo o facto dele conhecer minimamente a doutrina da Igreja Católica. Com a argumentação e as leituras que dela faz é que se pode concordar ou não, agora pelo menos sabe do que está a falar e fá-lo honestamente.

    Não há muitos outros protestantes (ou católicos) dos quais se possa dizer o mesmo.

     
  • At 22 de setembro de 2007 às 14:09, Blogger Luís Sá said…

    Já este artigo explica exactamente as razões do protestantismo tradicional estar a morrer, na sua "religião para as elites":

    http://www.igreja-presbiteriana.org/Documentos/Artigos/PSilva1.htm

     
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