quinta-feira, fevereiro 15, 2007
O filho pródigo
«Aos 89 minutos, Rui Costa construiu a jogada que deu origem ao golo, cruzou para Simão que rematou para defesa incompleta de Lobont. Na recarga, Miccoli desfez o empate e garantiu uma dificílima, mas importante, vitória para o Benfica.»

O futebol tem uma liturgia própria, os ritos são geridos com mestria, sob batuta acertada de jogadores habitualmente próximos da genialidade. O passe certo, o drible cego, o cruzamento no ponto. Há uma festa que parece desaparecer e estar ausente de outras liturgias. Já que não passamos do estádio, valia a pena bebermos na tradição evangélica (e os nossos amigos baptistas, aqui, alimentam a sua espiritualidade de panqueróque para converter as almas, sem ironias), o sentido da festa.

Os católicos preferem a via dolorosa, os joelhos em chagas de promessas em Fátima (não será mais feliz sofrer quando o passe certo de Rui Costa parece caminhar para o golo, mas ainda é preciso ter Miccoli para a recarga?!). Ou procurar o humor das coisas, o riso dos outros. Escrevi há muito tempo, na outra terra, que «enxoframo-nos com os humores dos outros sobre nós e perdemos a capacidade de rir – a auto-crítica, o “ver, julgar e agir” que nos ajuda a trilhar o caminho do questionamento, não o das certezas sofridas. Rir é bom. Rir de nós, melhor remédio é. O pior é que preferimos responder ao eventual achincalhamento com presunções sérias e dogmas de virtude pública. Soubéssemos rir da "Última Ceia" caricaturada por Herman há uns anos, com uma "Última Ceia" ainda mais divertida. [...] Andamos sérios. Nada que uma boa anedota não resolva.» É, está na altura. Ou então, podemos ir ao estádio, desopilar com estes deuses. Assim se louva também. É goooooooolo.

Miguel Marujo
posted by @ 12:44 da manhã  
2 Comments:
  • At 15 de fevereiro de 2007 às 02:10, Anonymous Anónimo said…

    boa!

     
  • At 15 de fevereiro de 2007 às 10:55, Blogger cbs said…

    Sim Miguel
    desconfia daqueles que não conseguem rir de si mesmos.
    quem está seguro pode sempre olhar para si e rir-se, sem receio de se desarticular.

    Mais uma vez o Bergson, desculpa lá mas nunca li mais nada :)

    O maior inimigo do riso é a emoção, porque o riso é a mecânica aplicada à vida.
    Quando nos rimos de alguém que tropeça, por exemplo, é uma caricatura do andar.
    È essa subversão da natureza do vivo, essa caricatura mecanicista que se torna no cómico.
    Numa sociedade de inteligências puras não se choraria mas haveria risos
    Sendo capaz de se desligar de afectos, o homem consegue rir de tudo.
    É o que fazem os sarcásticos e os cómicos.

    Mas a inteligência absoluta esmaga tanto como o afecto absoluto.
    A única forma de sobreviver é balançar com sabedoria entre ambos os pólos.
    Por isso quando a emoção começa a esmagar-nos é salutar respirar e rir.
    Bibliografia: H. Bergson, Le rire
    :)

     
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