«Aos 89 minutos, Rui Costa construiu a jogada que deu origem ao golo, cruzou para Simão que rematou para defesa incompleta de Lobont. Na recarga, Miccoli desfez o empate e garantiu uma dificílima, mas importante, vitória para o Benfica.» O futebol tem uma liturgia própria, os ritos são geridos com mestria, sob batuta acertada de jogadores habitualmente próximos da genialidade. O passe certo, o drible cego, o cruzamento no ponto. Há uma festa que parece desaparecer e estar ausente de outras liturgias. Já que não passamos do estádio, valia a pena bebermos na tradição evangélica (e os nossos amigos baptistas, aqui, alimentam a sua espiritualidade de panqueróque para converter as almas, sem ironias), o sentido da festa. Os católicos preferem a via dolorosa, os joelhos em chagas de promessas em Fátima (não será mais feliz sofrer quando o passe certo de Rui Costa parece caminhar para o golo, mas ainda é preciso ter Miccoli para a recarga?!). Ou procurar o humor das coisas, o riso dos outros. Escrevi há muito tempo, na outra terra, que «enxoframo-nos com os humores dos outros sobre nós e perdemos a capacidade de rir – a auto-crítica, o “ver, julgar e agir” que nos ajuda a trilhar o caminho do questionamento, não o das certezas sofridas. Rir é bom. Rir de nós, melhor remédio é. O pior é que preferimos responder ao eventual achincalhamento com presunções sérias e dogmas de virtude pública. Soubéssemos rir da "Última Ceia" caricaturada por Herman há uns anos, com uma "Última Ceia" ainda mais divertida. [...] Andamos sérios. Nada que uma boa anedota não resolva.» É, está na altura. Ou então, podemos ir ao estádio, desopilar com estes deuses. Assim se louva também. É goooooooolo.
Miguel Marujo
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boa!