Eu sou dos que acham que o Mundo passava bem sem Chávez. Se o preço for esse, que o Mundo passe sem presépios também. Demagogia religiosa de esquerda é conceito mais abortivo que a interrupção voluntária da gravidez. Até demagogia ditatorial já não me cheirava bem, dispensava agora a paprika da religião. De Chávez não se sabe bem qual a hierarquia das capelas. Se reza primeiro a Deus, se a Bolívar, se a Marx, se a Chomsky, se ao espelho. Nem tampouco está universalmente definido se quem reza a Deus pode ter Marx no coração (penso que o próprio Karl não o consentiria). Mas claro, devemos aplaudir ou ignorar estes trejeitos de tirania. O que é a proibição sumária de uma figura como o Pai Natal (que nós cristãos desdenhamos na quadra) quando a reforma socialista do presidente até está a aumentar a riqueza do país? O que são uns desviozinhos na liberdade de expressão quando se está com tanto rigor na economia? Com aquela última frase vem-me à lembrança que Salazar até é um nome muito apropriado para presidente sul-americano de filme série-B. Não se diga que Chávez é um homem sem referências. O seu passado lembra-nos um jovem Castro e o seu futuro um velho Pinochet. Parece-me que todos sabemos em que é que acaba o idealismo individual quando aparece ali abaixo da linha das muito violadas fronteiras do Grande Satã Imperialista Capitalista. Sou daqueles que acham que o mundo passava bem sem Chávez, mas admito que haja muito gente a achar-lhe graça. Nem tanto pelo pantomineiro excêntrico, mas mesmo pela panhonhice europeia. É que se o bom do Hugo viesse a Portugal dizer que lhe cheirava a enxofre e enfiar umas orelhas de burro mais uns chifres ao Cavaco (o Silva, não o Tiago ou o Tim), nós éramos panhonhas para dar umas risadinhas. Deve ser o nosso civilizadíssimo politicamente correcto que exige bonomia para com o politicamente incorrecto do pobrezinho do sul-americano. Pouco me espanta que os presépios venezuelanos tenham a figura de Chávez na manjedoura e, já que não era a primeira vez que se apropriava, porque não uma imagem de José Sócrates como S. José? Samuel Úria |
Não me digas que te ofendeu mais a proibição das decorações nos edifícios públicos com o Pai Natal ou o chiste do Chávez ao Bush do que a mentira de Bush ao mundo sobre o não-sei-quê que o Iraque tinha. E a guerra justificada por esse motivo fiel e verdadeiro, pleno de vigor democrático e sem "trejeitos de tirania".Talvez isso seja politicamente correcto.
Mas obrigado pela referência à minha "panhonhice". Estava mesmo a precisar de uma correcçãozinha fraterna.
CC (um dos que acha que o mundo passava melhor sem o Bush)