quarta-feira, janeiro 17, 2007
Do Inimigo
O Cristão pode e não deve amar em Satan a rebeldia, o mal e o pecado, mas pode e deve amar nele a criatura mais horrivelmente infeliz de toda a criação, o chefe e o símbolo de todos os inimigos, o Arcanjo que foi um dia o mais próximo de Deus.
Talvez que unicamente o nosso amor possa ajudá-lo a salvar-se, a tornar-se de novo qual foi no princípio, o mais perfeito dos espíritos celestes.
Salvando-o do ódio de todos os cristãos, todos os homens serão sempre salvos do seu ódio.

Cristo amou os homens, inclusivamente os rebeldes e os corruptos e os bestiais, até ao ponto de tomar sobre si todos os nossos pecados, até ao ponto de morrer por nós de uma morte infame.
Não poderá dar-se que Ele tenha querido libertar-nos da escravidão do Demónio, na esperança de que os homens, por seu turno, possam libertar o Demónio da sua condenação?
Não poderá dar-se que Cristo tenha redimido os homens a fim de que estes, mediante o divino preceito de amar os inimigos, venham a ser dignos de sonhar um dia a redenção do mais funesto e obstinado Inimigo?

Giovanni Papini, "Il Diavolo" 1953
cbs

posted by @ 12:07 da manhã  
12 Comments:
  • At 17 de janeiro de 2007 às 01:51, Anonymous Anónimo said…

    muito bem isto está a crescer. Para além dos óbvios protestante e católicos, agora umas pitadas de teologia ortodoxa...

     
  • At 17 de janeiro de 2007 às 14:10, Blogger Pedro Leal said…

    Revisionismo escatológico? Então Satanás vai ser derrotado ou vai ser convertido nos últimos tempos?

    Pedro Leal

     
  • At 17 de janeiro de 2007 às 14:28, Blogger zazie said…

    Deve ser revisonismo que também confunde as fronteiras entre o Bem e o Mal. O passo mais fácil para o relativismo ético.

     
  • At 17 de janeiro de 2007 às 15:55, Anonymous Anónimo said…

    este gajo foi excomungado por ter dito isto...

     
  • At 17 de janeiro de 2007 às 18:09, Anonymous Anónimo said…

    ...e bem excomungado

     
  • At 17 de janeiro de 2007 às 19:00, Blogger zazie said…

    Por acaso ele foi muito mais interessante que uma frase. Só que o interesse dele é literário e essa frase não vai mais longe do que o que Pedro Leal disse.


    Muito antes de ser excomunago até foi ateu, e fascista e anti-judaico e muitas outras coisas bem mais interessantes como o criador da grande Leonardo.

    Agora a ideia do amor tendo por finalidade a conversão do demónio é cá uma coisa.

    Ainda se fosse para salvar os contaminados. Esses podeiram ser alvo de um mal relativo, porque o BEM é absoluto. Mas se o Maligno não fosse absoluto então não havia fronteira. Apenas esse tal desejo a dar para o escatológico.

    Por acaso até penso que é o que se passa com a síndrome de Estocolmo.

     
  • At 20 de janeiro de 2007 às 18:29, Blogger timshel said…

    "Agora a ideia do amor tendo por finalidade a conversão do demónio é cá uma coisa.

    Ainda se fosse para salvar os contaminados. Esses podeiram ser alvo de um mal relativo, porque o BEM é absoluto. Mas se o Maligno não fosse absoluto então não havia fronteira. Apenas esse tal desejo a dar para o escatológico."

    tens razão sem dúvida

    mas este post parece-me ser sobretudo de natureza metafórica (ou hiperbólica) e não literal

    e desse ponto de vista ele está muito bem apanhado

     
  • At 21 de janeiro de 2007 às 08:43, Anonymous Anónimo said…

    Caríssimo irmão Tim
    é aqui talvez que também entra a minha excomunhão.

    Não, não vejo o Bem nem o Mal como "absolutos".
    E o que significa absoluto: pureza? exclusão?
    O que significa Bem? gozo? interesse próprio? interesse social? imperativo transcendental?
    Há vinte séculos Alguém nos explicou que o Inferno é a ausencia de amor-dádiva, não um sítio, não uma ideia.

    Quanto à hiperbole, sim e não.
    Sim, porque agarrado à letra vem sempre muito mais significado do que significante.
    Não, porque a história do Inimigo está muito mal contada, e há um ponto fundamental: Cristo veio redimir e não excomungar, mostrar a diferença entre amar e ódiar.

    Se há coisa que Jesus Cristo fez, foi humanizar o "sagrado", retirando a carga de exclusão do "intocável".
    Profano significava "ante, ou em fente do templo"; Jesus, veio abrir essas portas; foi iconoclasta e veio fazer "profano" o "sagrado" velho.

    Contesto esse "sagrado" que separa, não trao o pai por tu, mas através de Cristo sei que Ele nos ama, e É próximo, não é um "Deus de Olimpos", inacessivel ou castigador, que reduz a pó quem ousar tocar-lhe. Essa é a religião do Tabu, do Interdito, não é a minha, nem a considero Cristã.

    Estas tretas semi-ontológicas, semi-antropológicas acabam sempre por vir parar aqui: se-parar ou de re-parar.

    Pois bem, chega... depois disto, só devo mereçer a excomunhão da Santa Madre, concerteza.
    E eu ralado, ó eu ralado :)
    abraço

     
  • At 21 de janeiro de 2007 às 08:46, Anonymous Anónimo said…

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

     
  • At 21 de janeiro de 2007 às 15:03, Blogger Pedro Leal said…

    Por via das dúvidas, acho melhor esclarecer isto.

    A Biblia atesta a existencia de uma voz sedutora, oposta ao Pai, por ambição de Poder e inveja do Homem.
    A Igreja tradicionalmente vê nesse ente um anjo caído chamado Lucifer, Satan ou o Diabo.
    "Foi para destruir as obras do Diabo que apareceu o Filho de Deus" (Jo 3,8)
    Cristo que o apelida de "o assassino desde o princípio" (Jo 8, 44), aceita dialogar com ele e deixa-se testar durante 40 dias (salvo erro).

    Mas note-se que o carácter irrevogável da acção de Satan, vem da sua opção rebelde, e não de um falha no Amor do Pai.
    É Satan que se excomunga, que abandona e se separa de Deus, foi dele a iniciativa, é dele o Ódio.
    Não de Deus cujo princípio é Amor.

    Talvez esta explicação me suavize o anátema, lol

     
  • At 21 de janeiro de 2007 às 15:09, Anonymous Anónimo said…

    Claro que o trentista anónimo de cima sou eu, às aranhas com as trocas de identidades bloguisticas :)

     
  • At 21 de janeiro de 2007 às 19:59, Blogger timshel said…

    "Há vinte séculos Alguém nos explicou que o Inferno é a ausencia de amor-dádiva, não um sítio, não uma ideia"

    precisamente :)

    essa ausência é o diabo, o mal absoluto

     
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