A minha relação com Deus passa sempre ao lado d'Ele. É colateral. Concretiza-se sempre através duma externalidade: pela Igreja (a Católica, Apostólica, Romana), com a mediação da comunidade (a paróquia, por exemplo), na pessoa do padre; pela intercessão dos santos; pela leitura dos textos sagrados (com a plena consciência que Jesus apenas escreveu um rabisco fugaz no chão e que nenhum versículo da Bíblia mereceu o imprimatur do Pai); pelo Magistério. Por vezes tenho, como qualquer ateu, pequenas epifanias da natureza. Como qualquer ateu. Noutras ocasiões parece-me que chego mais perto de Deus (ou deixo que Ele se aproxime de mim) através de coisas ainda mais pequenas, como um filme, um romance, uma música. Sei também que não foi Deus quem realizou Por Um Fio (foi o Scorsese), mas não o trocava pelo livro de Judite. A mim Deus não liga nenhuma importância. Isto é, coloca-me no meu devido lugar, reduzindo-me à minha humilde significância. Assim, como tenho dificuldades em comunicar com Ele, em O conhecer (e, portanto, de O amar), fico-me pela tentativa de amar os meus irmãos. E nem disso sou capaz. Carlos Cunha, Novembro 6, 2006 (prisioneiro em território hostil)
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