domingo, setembro 23, 2007
Perder tempo
[13h15]
Perder tempo, era noutro sentido (vê como treslê): era perder tempo a explicar aquilo que nunca vai aceitar, porque a Zazie nunca aceita a opinião dos outros.

E perdi pouco tempo, veja lá, num fim-de-semana passado a trabalhar, sem tempo para a família, amigos ou o lazer. Mas perdi cinco minutos a escrever uma adenda aos seus pedidos. Mais um minuto a pôr um post, e outros a cinco a actualizar para responder a 5-cinco-5 comentários seus. Como vê não perdi tempo, roubei-os num instantinho ao patrão. E agora roubo ao meu almoço, pode ser?!

Sobretudo não tenho tempo para ir pesquisar, escrever demoradamente, porque nos seus 50 comentários diz muita coisa que não é verdade e que não escrevi e não está no texto de Anselmo Borges. Para si, desejamos o fim da Igreja, de Roma, somos anarco-fundamentalistas-islâmicos, que gostamos de orgias para obrigar as mulheres a abortar. (Posso caricaturar assim?, foi como me senti a ler as coisas todas que disse.)

E perco agora tempo. Para que não se ria, porque gosta muito de atacar os outros, mas depois diz que não fulaniza, está apenas a discutir ideias. Disse-lhe que as suas ideias são historicamente, teologicamente e eclesiologicamente arrogantes, porque as define como únicas e verdades feitas. Que eu saiba, a História, a Teologia e a Eclesiologia não ciências exactas. A não ser na cartilha de Zazie.

Mais tempo: Anselmo Borges não quer a destruição da Igreja, como é óbvio. Nem eu. Queremos transformá-la para melhor, desejamo-lo. E queremos fazê-lo por dentro, claro está, porque somos católicos apostólicos romanos. Aliás, acho graça a esta pulsão bloquista da Zazie: gosta muito de comentar a vida ad intra de uma instituição que não é a sua, e que é (peço desculpa, vou ser arrogante) visceralmente minha. Não gosto de quem põe em causa a minha fé, escudando-se em verdades pretensamente históricas ou eclesiais.

Com tempo: a democracia é um sistema integrado em muitas coisas quotidianas da Igreja. A própria eleição do Papa, sacrilégio!, faz-se por votos e maiorias. O que AB e eu defendemos e queremos é que o exercício da democracia seja mais verdadeiro e concreto no dia-a-dia da Igreja. Vai matar a Igreja? Sim, sim, os absolutistas e os monárquicos também o diziam. Claro que não mata a Igreja!

[A monarquia é absoluta? Um regime monárquico é tendencialmente absolutista, mesmo que adocicado. Mas que dizer de uma democracia como a inglesa que sustenta os luxos e vícios de uns quantos senhores e senhoras, apenas por estes terem nascido em determinados palacetes?!]

Logo, a monarquia na Igreja foi perniciosa, ao longo dos séculos, com papados muito infelizes. Hoje, o Vaticano pode ter uma prática mais democrática no exercício de representatividade, como instituição política e religiosa, do Povo de Deus: colocando mais e mais homens e mulheres, leigos e leigas, na discussão e na concretização das propostas de evangelização da Igreja, na praxis diária do exercício do múnus de cada um. Eu não sou menos que o Papa. Uma mulher não é menos que um padre. E os exemplos não se esgotam.

Desejo a ordenação das mulheres. Sim, não vejo porque não. Não há razões eclesiológicas, nem teológicas suficientes, nem bíblicas, para o contrariar.

Mas para Zazie, o problema de AB (e por arrasto o meu), é este: «Tudo começa com um equívoco. Hoje, quando se fala da Igreja, é numa gigantesca instituição e nos seus altos e médios hierarcas que de facto se pensa: Papa, bispos, padres. Já se esqueceu que, no princípio, não era assim, pois Igreja significava a reunião das Igrejas, entendidas como assembleias dos cristãos congregados em nome de Jesus.» É a pura das verdades: hoje, alguém de fora quando fala da Igreja ataca a posição do Papa sobre o preservativo, o silêncio do Vaticano sobre a ditadura tal, ou o bispo que aprendeu mais em 15 minutos do que em 67 anos. É escusado ao católico discutir com alguém de fora, da mais valia do trabalho de centenas de missionários no combate à sida em África, no papel clandestino de tantos e tantas contra ditaduras ou que a sexualidade é uma coisa única, belíssima, e não um pecado ou anátema que se abate sobre as pessoas. Dizer pois que ao princípio não era assim, está a explicar-se que hoje «a fé está mais dirigida ao dogma do que à pessoa de Jesus e ao Deus salvado», esquecendo «a Igreja enquanto comunidade dos fiéis a Cristo, que caminha na fé e na tentativa de actualizar no mundo o reinado de Deus a favor de todos os homens e mulheres, sobretudo dos mais pobres e abandonados, [sublinhando] sobretudo uma Igreja-instituição, hierarquizada e poderosa». Isto é muito diferente do fim do papado que leu ali.

Ainda isto. O dogma do Amor não está na lista burocrática de dogmas. Deve estar presente na vida de cada um de nós. Só assim, como dogma, experimentado dogmaticamente, faz sentido...

Mas de resto, não a tenho de convencer nem converter, nunca foi essa a minha atitude. Daí não me achar arrogante. Mas não tenho nada que defender-me do que nunca disse. (Quantas vezes disse isto?) Vivo a minha fé com a convicção de fazer um mundo melhor. Utopia, fé, ideologia? Chame-lhe o que quiser. É nisto que acredito.

Sem mais tempo. Posso dizer muito mais. Mas não vale a pena, foi esse o meu desabafo. Porque na discussão do aborto (que voltou a lembrar repetidas vezes, sem que fosse esse o objecto do texto de AB) sei como dirigiu a discussão entre os seus "50 comentários vs. os meus 4". É para isto que não tenho tempo. Fim de argumentação.

Miguel Marujo, o monty python arrogante. [13h47]
posted by @ 1:15 da tarde  
3 Comments:
  • At 23 de setembro de 2007 às 14:41, Blogger zazie said…

    Passando à frente do "não aceita as ideias dos outros e outros piropos, vais explicar-me primeiro com que fundamento é que dizes que a Igreja Católica não é minha.

    Só isto. Mais nada.

    Nem te vou dar uma aulinha de história à borla, para aprenderes,tu e o teu padre Borges, a diferença entre monarquia e república. Porque monarquia e república não são formas de governo e a democracia nada tem a ver com a forma de exercício das instiuições do Estado. E este tanto pode ser monárquico como republicano que não é dái que vem totalitarismo.

    Mais, a monarquia foi o regime que manteve as grandes liberdades dos povos. Desde organizções comunitárias a concelhos onde só os povos mandavam. Foi com a Revolução Francesa que o Estado tendeu a monopolizar todo o Direito por Decreto,contra o direito natural, e a impor um modelo único a todo o país ou sociedade. O totalitarismo deriva daí e também veio de um ideal igualitário. Todos os ideiais igualitários têm dado nisto porque não respeitam as diferenças nem as liberdades da tradição.


    Mas isto era o mínimo que o AB precisava de saber. O que eu espero é que me respondas como é que sabes que a Igreja Católica não é minha. Que eu não entro nela e quem o declarou, para além do teu processo de intenção.

     
  • At 23 de setembro de 2007 às 14:48, Blogger zazie said…

    Mas gostava que explicasses como é que a "monarquia na igreja foi prejudicial, uma vez que a Igreja nunca teve um regime monárquico. O Vaticano é um estado especial e nem é monarquia. E todas as monarquias foram regimes com rei, não foram regimes com patriarcas, como no Oriente.

    Só uma pergunta: os grandes ditadores modernos, os que mataram milhões, foram produto de quê?

    De monarquias baseadas no velho direito natural ou fruto de ideias igualitários, que começaram por derrubar reis em nome do povo, para derrubarem povo em nome nome de outros colectivos- do fascismo ao comunismo e nazismo e acabaram como belíssimas democracias, segundo a v. lógica.

     
  • At 23 de setembro de 2007 às 14:58, Blogger Miguel Marujo said…

    Tu própria, já o disseste, muitas vezes aqui, e em comentários sucessivos quando foi a discussão. Agnóstica, chama-te o Timshel, e tu não pestanejas: «compreendo que, enquanto agnóstica ou similar "pré-moderna", o Mandamento de Cristo (ou os ensinamentos da Igreja) não te interessem particularmente».
    I rest my case.

    Ah e obrigado pela aula grátis, mas confio mais noutros historiadores, que pintem menos o mundo a preto e branco.

     
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