segunda-feira, fevereiro 22, 2010
Uma primeira meditação quaresmal.
Numa daquelas citações anedotárias e meramente atribuíveis, lembro-me que certa vez ouvi que Madre Teresa de Calcutá (penso eu), em dado lugar, a dada altura, quando deparada com a pergunta 'Que mais a atormenta neste mundo neste momento?' ter respondido qualquer coisa como isto:

'A Comunhão recebida na mão.'

Repare-se: não a fome, não a pestilência, não o aborto - mas a Eucaristia tomada de forma (segunda a mesma) indevida e irreverente. Li há tempos (ou será que ouvi citado?) Chesterton, que dizia - e continuo com paráfrases inacuradas - que a coisa que mais espanta o mundo é a frivolidade que é só própria dos santos. Não sei como não associar. Mas ainda há mais a retirar disto.

Ocorreu-me algo mais. Estes são tempos em que, por ênfases passados na salvação da alma eterna, é possível que tenhamos esquecido o pópulo terreno e a redenção dos aquis e agoras. A ressaca por vezes joga o jugo - com o mesmo pendor desajustado - no prato oposto e lá tentamos desequilibrar a justa medida do Deus que os hebreus chamaram (e nós chamamos também) 'Nossa Justiça'. Há, pois, que sempre lembrar: Sta Marta, a discípula do prioritário pragmatismo pietista foi desdenhada pelo Senhor em favor de Sta Madalena, essa que escutava a Palavra, tácita e contemplativamente; e que Judas Iscariotes - que decerto seria o padroeiro da Justiça Social - foi silenciado perante o banho perfumado que esta devota preferiu dar aos pés do Mestre, e não aos dos pobres, esses grandes beneficiários da economia religiosa.

No nosso zelo por alimentarmos os famintos que nos caiam aos pés, saibamos também jazer bem chãmente, de joelho dobrado e boca aberta, ao sermos alimentados de Eternidade. Porque nenhuma adoração é horizontal (homem-homem) sem que se tenha ajoelhado perante a verticalidade suma (homem-Deus).

É esta rendição humilde, de genuflexão solene e língua trémula de quem recebe o Sacramento, que nos fará prezar as humildades que repliquem esta dependência humana - demasiado humana. Assim, o nosso Deus parecerá divino - infindamente divino.

Nuno Fonseca
Pro Christo et Humanitate
posted by @ 1:08 da manhã   132 comments
domingo, fevereiro 14, 2010
Fim de moratorium e Confirmação.
O meu período de reflexão e sabática terminou muito antes deste anúncio, porém não me arrependo de ter aguardado todo este mês para meditar seriamente neste meu passo de fé. A conclusão é a mais óbvia, e é a de que abraçarei o Catolicismo.

O post original em que enunciei os motivos centrais da minha decisão foi reposto. Quem queira disputar a minha conversão - e devo repetir que a procura de motivos criptobiográficos e metapsicanalíticos são desnecessários - pode fazê-lo abordando os argumentos que nesse texto apresento. O meu espírito, na resposta, será de amizade para com amigos e de ecumenismo para os concristãos doutra confissão.

Para os que se alegraram com esta notícia, adianto que estou a dar os passos iniciais para a integração e preparo-me para receber o sacramento da Confirmação.

Prospera Quadragesima sit,
Nuno Fonseca
posted by @ 7:19 da tarde   3 comments
A Túlipa e a praça

Talvez a Igreja seja unicamente possível se não ceder à tentação de credibilidade e coerência mundanas; se se deixar habitar pelo mal de fio a pavio como a sua história tantas vezes mostrou e mostra; até porque a bem ver, é precisamente no incrível da sua incredibilidade e incoerência que ela se tem firmado efectivamente, na englobância real e histórica de todas as suas quezílias práticas e teóricas; talvez a Igreja só seja possível como efectivamente o tem sido: um lugar onde o demoníaco assente arraiais, e onde se dá uma mistérica esperança e confiança de vitória pacífica e paciente sobre o mal.

Dito de outro modo: deverá ser o lugar onde cada qual aprenda a amar o inimigo, incluindo aquele que lhe pareça anti-cristianizar o lugar; até porque curiosamente, tal identificação costuma dar-se mutuamente, e isto sobretudo no caso mais interpelante de quando na sinceridade religiosa de ambos.

vítor mácula
posted by @ 5:38 da tarde   1 comments
terça-feira, fevereiro 02, 2010
A culpa e a Graça
Estava eu em alegre cavaqueira com o Nuno Fonseca aí nuns comentários abaixo, quando me deparei com o ponto 847 do catecismo. Este ponto reza:

"Esta afirmação não visa aqueles que, sem culpa da sua parte, ignoram Cristo e a sua igreja:«Com efeito, também podem conseguir a salvação eterna aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, no entanto procuram Deus com um coração sincero e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade conhecida através do que a consciência lhes dita»".

O que mais me fascina neste ponto não é tanto o problema de fundo que nele é abordado, mas a relação entre a culpa e a Graça.

Saber o que é do domínio da culpa e o que é o resultado da Graça.

Estou convicto que este problema, que atravessou e atravessa a Humanidade, sob diversas formulações e com diferentes palavras, frequentemente filosóficas ou científicas, nunca terá uma resposta terrena por razões que agora não interessa invocar para não tornar este post demasiado fastidioso.

O que pressinto, contudo, é que este problema, que atravessou igualmente a história do cristianismo, é pouco importante do ponto de vista dos dogmas da fé.

Deus, quando enviou o Seu Filho, não foi para trazer a resposta a esta questão. Foi, no único mandamento que Ele nos deixou, para nos pedir para fazermos uma escolha, a escolha do Amor.

Talvez este pedido para escolhermos o Amor seja afinal também a resposta divina para esse eterno problema humano de saber o que é do domínio da culpa e o que é o resultado da Graça.

timshel
posted by @ 9:28 da tarde   51 comments
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Porque Não Sou Herói Biblico (Actos 8:30-31)
(para o nuno fonseca)


Não é tarde demais, dizias
enquanto subíamos até ao Carmo
à procura de uma mesa de café
onde pousar o meu exílio.

Entre cigarros frios, acesos
entre o que realmente importa,
eu aprendia a mentir-Lhe
um pouco menos.


jleal
posted by @ 12:06 da manhã   0 comments
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